Percorro o peito com os dedos...
Levo-os à boca e recordo
Aqueles doces momentos
Que me deixaram marcada
Neste peito que acaricio
Neste peito que palpita
Quando recordo, revivo...
Mas também é este peito que arde
É este peito que dói sem noção
Este peito que dá vontade de rasgar
De abrir, expôr, libertar...
É este peito que arde
Quando as palavras não fartam
Quando as imagens cansam
Quando tudo fica preso
Quando tudo explode e não se vê
É neste peito...
Que o invisível ocorre
Que o inexplicável surge
É este peito...
Que a dor abraça.
quarta-feira, dezembro 29, 2004
segunda-feira, dezembro 27, 2004
Agonia poética
Eu sinto-a bem perto de mim.
Desenha-me sorrisos nos lábios.
Deixa um brilho em meus olhos.
Eu sinto-a...
Mas não a sei...
Como assim?
Sinto os nós a formarem-se
"Como assim?" pergunto
Saber... O que há para saber?
Ai! Os pensamentos que vêm
E logo partem
E me deixam de rastos
Junto com as emoções
Que não sei
Mas que sinto...
Ai! Porquê escrever assim?
Porquê desta forma
E não daquela que ocupa as linhas?
Só vejo o branco...
Gemo em silêncio
As mãos anseiam por se contorcerem
A cabeça por se lançar para trás
Os olhos por fecharem
Os dentes por rangerem
Tão fortemente, com vontade de partir
Ai! Esta agonia que me parte
Não me mata
Porque morte de poeta não dói
O que dói é o que o agonia
As dores de pensamento
A paragem que a mão decide fazer
As dores dos ossos e dos músculos
Os lábios que anseiam ser trincados
Ai! Morte de poeta só existe
Naquelas letras que se formam
Para aliviar a dor
Para sujeitar o poeta ao papel
À tinta, à mão, aos olhares
As letras matam o poeta
Porque são arma perfeita
Contra a imperfeição da mão
A mão que dói quando escreve
A mão que não escreve
Porque não sabe
A mão que não se liga ao coração
E só obedece à mente
Ao raciocínio que mata o poeta
O poeta morre pelas mesmas mãos
Que julga poder usufruir
Para aliviar o seu sofrimento
O poeta morre...
Sem querer
Por não saber
E por sentir.
Desenha-me sorrisos nos lábios.
Deixa um brilho em meus olhos.
Eu sinto-a...
Mas não a sei...
Como assim?
Sinto os nós a formarem-se
"Como assim?" pergunto
Saber... O que há para saber?
Ai! Os pensamentos que vêm
E logo partem
E me deixam de rastos
Junto com as emoções
Que não sei
Mas que sinto...
Ai! Porquê escrever assim?
Porquê desta forma
E não daquela que ocupa as linhas?
Só vejo o branco...
Gemo em silêncio
As mãos anseiam por se contorcerem
A cabeça por se lançar para trás
Os olhos por fecharem
Os dentes por rangerem
Tão fortemente, com vontade de partir
Ai! Esta agonia que me parte
Não me mata
Porque morte de poeta não dói
O que dói é o que o agonia
As dores de pensamento
A paragem que a mão decide fazer
As dores dos ossos e dos músculos
Os lábios que anseiam ser trincados
Ai! Morte de poeta só existe
Naquelas letras que se formam
Para aliviar a dor
Para sujeitar o poeta ao papel
À tinta, à mão, aos olhares
As letras matam o poeta
Porque são arma perfeita
Contra a imperfeição da mão
A mão que dói quando escreve
A mão que não escreve
Porque não sabe
A mão que não se liga ao coração
E só obedece à mente
Ao raciocínio que mata o poeta
O poeta morre pelas mesmas mãos
Que julga poder usufruir
Para aliviar o seu sofrimento
O poeta morre...
Sem querer
Por não saber
E por sentir.
domingo, dezembro 26, 2004
Impedimento
Sinto o nó percorrer o peito e alojar-se na garganta com vontade de criar raízes. Sinto a mão parar para pensar e esperar para escrever.
É tão triste este cenário... Os olhos e a boca descaem e as sobrancelhas franzem. Sinto um novo nó. Desta vez, no estômago. Não sei se grito ou se choro. Sinto-me tão frustrada, irritada, desapontada comigo mesma. Parece que fui decapitada e de mãos cortadas para ser castigada por um crime anónimo e desconhecido. Quero lhes bater. Sim! As minhas mãos anseiam por apertar um pescoço e com as unhas rasgar a pele, arranhar, cortar, desfazer... A amabilidade do meu olhar evapora-se como uma gota de água num deserto abraçado pelo calor infernal. Os meus dedos abrem e fecham esperando encontrar algo para esmagar. Sinto uma vontade incontrolável de morder. Os meus lábios começam a sangrar de tanto os roer e consigo ouvir o roçar dos dentes com vontade de rachar. A fúria eleva o meu corpo, agita-o. Sinto como se me amarrassem os braços com tanta força que até os meus ossos gemem; sinto-me a ser agitada por mãos frias, fortes que amarram, arranham, prendem; sinto as unhas fincarem a carne dos meus fracos braços... Caio abandonada, gelada e moribunda. Sinto, agora, o cheiro da dor, do sangue que escorre nas minhas vestes e acaricia a minha pele. Levo as mãos ensanguentadas aos lábios e saboreio o sabor metálico daquele líquido vermelho que teima em sair do meu corpo. Dói-me o peito e os braços já nem os sinto. Mas o peito começa-me a arder... Dói, dói, dói! Sinto-me a queimar por dentro... As lágrimas caem, agora, como forma de fuga daquele fogo interior. O meu corpo atraiçoa-me... de tal maneira, que desejo separar-me dele; desejo afastar-me e ser livre. Libertar-me daquela jaula que se mata e me impede; de transbordar emoções, de proferir sons, de escrever palavras. Aquela jaula que me impede de me exprimir, que me apresenta obstáculos que me levam à loucura, ao masoquismo; porque sim! São minhas as mãos gélidas que me agitam e me rasgam, vem de mim o sofrimento de que tanto me lamento, vem de mim a estupidez de não saber escrever o que mais quero... Sim! Vem de mim a deficiência e não do corpo.
É tão triste este cenário... Os olhos e a boca descaem e as sobrancelhas franzem. Sinto um novo nó. Desta vez, no estômago. Não sei se grito ou se choro. Sinto-me tão frustrada, irritada, desapontada comigo mesma. Parece que fui decapitada e de mãos cortadas para ser castigada por um crime anónimo e desconhecido. Quero lhes bater. Sim! As minhas mãos anseiam por apertar um pescoço e com as unhas rasgar a pele, arranhar, cortar, desfazer... A amabilidade do meu olhar evapora-se como uma gota de água num deserto abraçado pelo calor infernal. Os meus dedos abrem e fecham esperando encontrar algo para esmagar. Sinto uma vontade incontrolável de morder. Os meus lábios começam a sangrar de tanto os roer e consigo ouvir o roçar dos dentes com vontade de rachar. A fúria eleva o meu corpo, agita-o. Sinto como se me amarrassem os braços com tanta força que até os meus ossos gemem; sinto-me a ser agitada por mãos frias, fortes que amarram, arranham, prendem; sinto as unhas fincarem a carne dos meus fracos braços... Caio abandonada, gelada e moribunda. Sinto, agora, o cheiro da dor, do sangue que escorre nas minhas vestes e acaricia a minha pele. Levo as mãos ensanguentadas aos lábios e saboreio o sabor metálico daquele líquido vermelho que teima em sair do meu corpo. Dói-me o peito e os braços já nem os sinto. Mas o peito começa-me a arder... Dói, dói, dói! Sinto-me a queimar por dentro... As lágrimas caem, agora, como forma de fuga daquele fogo interior. O meu corpo atraiçoa-me... de tal maneira, que desejo separar-me dele; desejo afastar-me e ser livre. Libertar-me daquela jaula que se mata e me impede; de transbordar emoções, de proferir sons, de escrever palavras. Aquela jaula que me impede de me exprimir, que me apresenta obstáculos que me levam à loucura, ao masoquismo; porque sim! São minhas as mãos gélidas que me agitam e me rasgam, vem de mim o sofrimento de que tanto me lamento, vem de mim a estupidez de não saber escrever o que mais quero... Sim! Vem de mim a deficiência e não do corpo.
terça-feira, dezembro 21, 2004
Preguiça
Sento-me e olho para o lado,
Deito a cabeça e penso...
Perto do sono
E sem querer dormir...
(É só preguiça!)
Sinto-me desconfortável
E ajeito a cabeça entre as mãos.
As pálpebras descem,
Mas estou longe de adormecer.
Fico pachorrenta
Sem saber o que fazer...
Saber até sei,
Mas não tenho vontade.
Milhares de cenários passam-me pela cabeça...
E eu... sem sequer um dedo mexer.
Ah preguiça que me consomes!
Roubas-me a vontade e estendes-me assim...
Julgava eu que tinha imaginação,
Julgava eu que tinha energia
Até chegares tu e dizeres-me que não.
Deito a cabeça e penso...
Perto do sono
E sem querer dormir...
(É só preguiça!)
Sinto-me desconfortável
E ajeito a cabeça entre as mãos.
As pálpebras descem,
Mas estou longe de adormecer.
Fico pachorrenta
Sem saber o que fazer...
Saber até sei,
Mas não tenho vontade.
Milhares de cenários passam-me pela cabeça...
E eu... sem sequer um dedo mexer.
Ah preguiça que me consomes!
Roubas-me a vontade e estendes-me assim...
Julgava eu que tinha imaginação,
Julgava eu que tinha energia
Até chegares tu e dizeres-me que não.
quarta-feira, dezembro 15, 2004
Alguém
Sinto que ela aprendeu a não chorar, talvez esteja anestesiada por todos os comprimidos que a cercam. Embebida em tanta dor física e mágoa emocional, como é possível que não grite? Marcada no corpo e na mente pela história que a fez, deixada com feridas abertas e lágrimas outrora secas por uma mão trémula ainda macia, vejo-a agora de boca fechada e braços cruzados, sentada no sofá com a manta nas pernas a olhar a televisão. Mas o seu olhar está perdido; perdido nas memórias que a assolam e que a prendem ao passado. Vejo o seu corpo ali, mas sinto que o seu espírito viajou. Não lhe sinto a presença e entristece-me saber que a sua chama se apagou, os seus sorrisos morreram e as gargalhadas... já nem me lembro como eram. No entanto, ela não grita, não chora... Talvez lamente os seus males em suspiros... mas são fracos e perdem-se no ar. Apenas o seu olhar a denuncia; um olhar perdido, triste, cheio de dor. Observo-a, tantas vezes, a mergulhar profundamente nas emoções que a consomem e nos pensamentos que a confundem. Sei que quando olha o mar transporta-se para aquele infinito do horizonte e vagueia, divaga, sente... Sei que gosta daquela linha inatingível porque a leva para longe; longe do mundo em que foi posta para viver, conviver e sofrer. Sei que se quer afastar da dor terrível que se apodera do seu corpo (daí os comprimidos) e dos golpes duros do pensamento que esfaqueiam a sua mente. Isola-se... em pensamentos e palavras... Isola-se... e tantas vezes não é vista.
14 de Dezembro de 2004
14 de Dezembro de 2004
domingo, dezembro 12, 2004
Passagem de um livro
"Há em nós um ser escondido, desconhecido, que fala uma língua estrangeira, e com o qual, mais cedo ou mais tarde, teremos que conversar."
Fraçois Taillandier, in A Minha Melhor Amiga
Fraçois Taillandier, in A Minha Melhor Amiga
Eu
Eu, eu, eu, eu...
Porque não tu ou vós
Ou até mesmo eles?
Porquê sempre eu
O tema dos meus escritos,
A razão das minhas palavras,
A água do meu choro,
O motivo do meu lamentar?
Sinto-me incapaz,
De membros mutilados,
De mente vazia
E ideias perdidas
Para escrever
O teu,
O vosso,
O deles.
Estou dentro do eu
Para poder compreender,
Decifrar, achar razões
E deixá-las no papel.
Mas não entro num tu,
Num vós, num eles
Para vasculhar e perceber
O que nem sei procurar.
Porque não tu ou vós
Ou até mesmo eles?
Porquê sempre eu
O tema dos meus escritos,
A razão das minhas palavras,
A água do meu choro,
O motivo do meu lamentar?
Sinto-me incapaz,
De membros mutilados,
De mente vazia
E ideias perdidas
Para escrever
O teu,
O vosso,
O deles.
Estou dentro do eu
Para poder compreender,
Decifrar, achar razões
E deixá-las no papel.
Mas não entro num tu,
Num vós, num eles
Para vasculhar e perceber
O que nem sei procurar.
quinta-feira, dezembro 09, 2004
Digo tanto
Digo tanto
Que me afogo nas palavras
E perco-me nos pensamentos
Digo tanto
Que não encontro linha de raciocínio
E tudo o que digo é fora de tempo
Que me afogo nas palavras
E perco-me nos pensamentos
Digo tanto
Que não encontro linha de raciocínio
E tudo o que digo é fora de tempo
segunda-feira, dezembro 06, 2004
Passagem de um livro
"Se não vistes nenhum de nós,
e por isso não existimos,
também não existis vós,
porque também não vos vimos."
Manuel António Pina, in A lha do Chifre de Ouro
e por isso não existimos,
também não existis vós,
porque também não vos vimos."
Manuel António Pina, in A lha do Chifre de Ouro
domingo, dezembro 05, 2004
Impaciência
É a impaciência que me arrasta
Até às masmorras da incomprensão
E me anestesia os sentidos
Perante gestos e palavras da multidão
É a impaciência que me atira
Para os caminhos do delírio
E para as malhas do desespero
Que me consomem o espírito
É a impaciência que me humilha
A cada gesto mal feito
A cada palavra mal dita
Que tornam o meu exprimir sem jeito
É a impaciência que me desgasta
Por não me ensinar como agir
E por me deixar tão fraca
Sem forças para mais fingir
Até às masmorras da incomprensão
E me anestesia os sentidos
Perante gestos e palavras da multidão
É a impaciência que me atira
Para os caminhos do delírio
E para as malhas do desespero
Que me consomem o espírito
É a impaciência que me humilha
A cada gesto mal feito
A cada palavra mal dita
Que tornam o meu exprimir sem jeito
É a impaciência que me desgasta
Por não me ensinar como agir
E por me deixar tão fraca
Sem forças para mais fingir
sexta-feira, dezembro 03, 2004
Deixa...
Deixa morrer o que já parecia morto. Deixa morrer o que pelo passado quer ser enterrado. Não puxes por algo que já não tem por onde puxar. Não queiras o que já não há para dar. A luz que queres voltar a ver já foi coberta pelo manto da escuridão que não consegues decifrar, que não consegues levantar. Não podes controlar tudo, sabes? Não controlas sequer uma pequena parte. Não te exaltes pelo que já nada podes fazer. Deixa estar... Não está tudo ao teu alcance. Não está tudo nas tuas mãos. Sim, vê-te como pequeno que és. O poder que julgas possuir é na verdade um véu sobre a tua impotência. Cobres-te do que não és para poderes aguentar o que não consegues. Esquece, deixa estar... O que tem que ser não pode ser mudado por mais que queiras, há coisas que têm que ser da maneira que são, e não da maneira que queres que sejam, por isso não te exaltes pelo que nunca vais conseguir, por isso, deixa morrer o que quer ser morto e enterrado.
quarta-feira, dezembro 01, 2004
Dentro de mim
É nas perguntas que me perco
E é nesse perder que me adoro.
É nessa facilidade de me ausentar que me admiro
E é nesse remoer de pensamentos que suspiro.
É nesses momentos de clareza que sorrio
E é nesses sorrisos que rio.
Quando penso,
Vagueio,
Imagino,
Divago...
É nesse viajar ao interior que vejo
E é nesse ver que percebo.
É nesse murmurar que me escuto
E é nesse escutar que luto.
É nessa luta constante em que existo
E é nesse cansaço que desisto.
E é nesse perder que me adoro.
É nessa facilidade de me ausentar que me admiro
E é nesse remoer de pensamentos que suspiro.
É nesses momentos de clareza que sorrio
E é nesses sorrisos que rio.
Quando penso,
Vagueio,
Imagino,
Divago...
É nesse viajar ao interior que vejo
E é nesse ver que percebo.
É nesse murmurar que me escuto
E é nesse escutar que luto.
É nessa luta constante em que existo
E é nesse cansaço que desisto.
terça-feira, novembro 30, 2004
Se...
Eu escreveria tanto mais
Se fosse Bocage ou Pessoa.
Eu escreveria tanto mais
Se soubesse fazê-lo.
Eu escreveria tanto mais
Se tivesse veia poética.
Mas não sou,
Não sei,
E não tenho.
Porque escrevo
O que escrevo então?
Este porquê eu não sei...
Se fosse Bocage ou Pessoa.
Eu escreveria tanto mais
Se soubesse fazê-lo.
Eu escreveria tanto mais
Se tivesse veia poética.
Mas não sou,
Não sei,
E não tenho.
Porque escrevo
O que escrevo então?
Este porquê eu não sei...
Pergunta
Queres saber o meu porquê?
Então olha para ti.
Sabes o teu porquê?
Se souberes não o digas.
É o teu.
O meu também é o meu.
Pensas que to vou dizer?
Onde estaria depois o mistério?
Onde estariam depois os porquês?
Não gostas de indagar?
Eu cá gosto.
Sabe bem.
Sabe melhor que respostas.
Essas rematam.
A pergunta alarga.
A pergunta expande.
Pergunta...
Podes sempre fazê-lo.
Não te impeço.
Só não esperes que te responda.
O meu porquê está dentro de mim.
Não tens que descobrir o meu porquê
Tens que me descobrir a mim.
Vá, perdeste a coragem?
O desafio é muito grande?
Pensei que quisesses saber.
A tua vontade não é assim tão forte.
Querias uma resposta que rematasse?
Que acabasse?
Querias o fácil?
Pois, desculpa-me...
A descoberta não é fácil.
Perguntar porquê talvez o seja.
Responder a esse é que já não.
Querias ter a parte fácil
E dar-me a difícil?
Pois, eu vou partilhar contigo o difícil.
Descobre o porquê.
Vá, assim também me ajudas.
Não sei o porquê completo.
Também ainda não me descobri.
Então olha para ti.
Sabes o teu porquê?
Se souberes não o digas.
É o teu.
O meu também é o meu.
Pensas que to vou dizer?
Onde estaria depois o mistério?
Onde estariam depois os porquês?
Não gostas de indagar?
Eu cá gosto.
Sabe bem.
Sabe melhor que respostas.
Essas rematam.
A pergunta alarga.
A pergunta expande.
Pergunta...
Podes sempre fazê-lo.
Não te impeço.
Só não esperes que te responda.
O meu porquê está dentro de mim.
Não tens que descobrir o meu porquê
Tens que me descobrir a mim.
Vá, perdeste a coragem?
O desafio é muito grande?
Pensei que quisesses saber.
A tua vontade não é assim tão forte.
Querias uma resposta que rematasse?
Que acabasse?
Querias o fácil?
Pois, desculpa-me...
A descoberta não é fácil.
Perguntar porquê talvez o seja.
Responder a esse é que já não.
Querias ter a parte fácil
E dar-me a difícil?
Pois, eu vou partilhar contigo o difícil.
Descobre o porquê.
Vá, assim também me ajudas.
Não sei o porquê completo.
Também ainda não me descobri.
Porque escreves?
Porque escreves?
Melhor, porque sufocas sem a escrita?
Porque é que tudo tem que estar por escrito?
Não sabes passar sem escrever?
Sabes que isso é doença?
Sabes que não o deves fazer?
Digo-te que não o faças.
Digo-te para teu bem.
Não te alivia isso,
Isso que chamas de escrita .
Letras e palavras?
Que é isso?
Não é nada.
Afasta-te enquanto te aviso.
Afasta-te porque sou eu que o digo.
Vá, ouve-me!
Não vês que só falo verdade?
Nunca te irei mentir...
Não escrevas,
Isso só faz pensar.
Faz mal...
Deixa isso!
Não me ouves?
Continuo...
Porque escreves?
Porque preferes não me ouvir?
É assim tão importante?
Não vejo nada de importante nisso.
E tu estás a ver bem?
A mim parece-me que não.
Melhor, porque sufocas sem a escrita?
Porque é que tudo tem que estar por escrito?
Não sabes passar sem escrever?
Sabes que isso é doença?
Sabes que não o deves fazer?
Digo-te que não o faças.
Digo-te para teu bem.
Não te alivia isso,
Isso que chamas de escrita .
Letras e palavras?
Que é isso?
Não é nada.
Afasta-te enquanto te aviso.
Afasta-te porque sou eu que o digo.
Vá, ouve-me!
Não vês que só falo verdade?
Nunca te irei mentir...
Não escrevas,
Isso só faz pensar.
Faz mal...
Deixa isso!
Não me ouves?
Continuo...
Porque escreves?
Porque preferes não me ouvir?
É assim tão importante?
Não vejo nada de importante nisso.
E tu estás a ver bem?
A mim parece-me que não.
Escreverias
Escreverias sem cessar
Se soubesses o que sinto
Não é para te espantar
Mas não sei o que pinto
Escreverias sem cessar
Se soubesses o que penso
Não é para te alarmar
Mas não tenho bom senso
Escreverias sem cessar
Se tivesses conhecimento
Que ando a chorar
Por cantos de tormento
Escreverias sem cessar
Se não fosses eu
Perdida no ar
Sem nada seu
Se soubesses o que sinto
Não é para te espantar
Mas não sei o que pinto
Escreverias sem cessar
Se soubesses o que penso
Não é para te alarmar
Mas não tenho bom senso
Escreverias sem cessar
Se tivesses conhecimento
Que ando a chorar
Por cantos de tormento
Escreverias sem cessar
Se não fosses eu
Perdida no ar
Sem nada seu
Adormecido
No cenário da tua vida
Aclamas noites alucinantes
De gentes estonteantes
Que são tanto como tu
No teatro do teu olhar
Há quem note que a coragem
Não passa de uma miragem
Com preguiça de gritar
No repetir do teu mostrar
Inventas-te uma história
Que em ti não há memória
Porque sabes que não é tua...
Continuas a ensaiar
A conveniência do sorriso
O planear do improviso
Que te faz sentir maior
No artifício dos teus gestos
Pensas abraçar o mundo
Quando nem por um segundo
Te abraças a ti mesmo
E assim vais vivendo
E assim andando aí
E assim perdendo em ti
Tudo aquilo que nunca foste...
Quando um dia acordares
Numa noite sem mentira
E te vires onde não estás
Vais querer voltar para trás...
Toranja
Adoro esta letra porque me identifico com ela. E provavelmente muitas mais pessoas o farão. Vivemos num teatro em que o que mostramos é o que pensamos ser conveniente os outros verem. Dizemo-nos fortes quando trememos por dentro, dizemo-nos grandiosos quando nos sentimos pequenos ao lado de tudo e todos... dizemos o que não somos porque não sabemos olhar para dentro e vermo-nos e, assim, construimos uma personagem agradável aos outros olhos enquanto nos vamos perdendo nesse cenário falso e de mentira. Mas nada como a letra da música para exprimir as palavras ocas que vou tentando encadear.
P.S. Resolvi ocultar o refrão porque penso que não tem muito a ver com o que eu pretendia transmitir.
Aclamas noites alucinantes
De gentes estonteantes
Que são tanto como tu
No teatro do teu olhar
Há quem note que a coragem
Não passa de uma miragem
Com preguiça de gritar
No repetir do teu mostrar
Inventas-te uma história
Que em ti não há memória
Porque sabes que não é tua...
Continuas a ensaiar
A conveniência do sorriso
O planear do improviso
Que te faz sentir maior
No artifício dos teus gestos
Pensas abraçar o mundo
Quando nem por um segundo
Te abraças a ti mesmo
E assim vais vivendo
E assim andando aí
E assim perdendo em ti
Tudo aquilo que nunca foste...
Quando um dia acordares
Numa noite sem mentira
E te vires onde não estás
Vais querer voltar para trás...
Toranja
Adoro esta letra porque me identifico com ela. E provavelmente muitas mais pessoas o farão. Vivemos num teatro em que o que mostramos é o que pensamos ser conveniente os outros verem. Dizemo-nos fortes quando trememos por dentro, dizemo-nos grandiosos quando nos sentimos pequenos ao lado de tudo e todos... dizemos o que não somos porque não sabemos olhar para dentro e vermo-nos e, assim, construimos uma personagem agradável aos outros olhos enquanto nos vamos perdendo nesse cenário falso e de mentira. Mas nada como a letra da música para exprimir as palavras ocas que vou tentando encadear.
P.S. Resolvi ocultar o refrão porque penso que não tem muito a ver com o que eu pretendia transmitir.
sexta-feira, novembro 26, 2004
Cenário
Queria imaginar um cenário bonito
Então imaginei pássaros e flores...
Mas pareceu-me muito vulgar
Então pensei um pouco mais...
Decidi imaginar cores diversas
E vi o encarnado e o preto...
Mas só consegui ver linhas...
Então decidi imaginar formas
E imaginei um corpo...
Mas achei demasiado erótico...
Então pensei, desta vez, em livros
E agradou-me a ideia...
Quis cores para os livros
E imaginei beje e preto...
Preto nas letras, beje nas páginas...
Queria um cenário mais que visual
Então imaginei o cheiro...
Um cheiro a papel, velho e mofo
E senti-me bem naquele ambiente...
Um sentimento confortável, porém incompleto...
Então decidi imaginar o tacto...
Imaginei mãos e dedos
E o toque nas páginas...
Não precisei de imaginar mais
Estava já sentada à secretária
Com livros abertos no colo
Folheava, folheava, folheava...
Fique lá até o dia adormecer
Deixei-me ficar até eu adormecer...
Então imaginei pássaros e flores...
Mas pareceu-me muito vulgar
Então pensei um pouco mais...
Decidi imaginar cores diversas
E vi o encarnado e o preto...
Mas só consegui ver linhas...
Então decidi imaginar formas
E imaginei um corpo...
Mas achei demasiado erótico...
Então pensei, desta vez, em livros
E agradou-me a ideia...
Quis cores para os livros
E imaginei beje e preto...
Preto nas letras, beje nas páginas...
Queria um cenário mais que visual
Então imaginei o cheiro...
Um cheiro a papel, velho e mofo
E senti-me bem naquele ambiente...
Um sentimento confortável, porém incompleto...
Então decidi imaginar o tacto...
Imaginei mãos e dedos
E o toque nas páginas...
Não precisei de imaginar mais
Estava já sentada à secretária
Com livros abertos no colo
Folheava, folheava, folheava...
Fique lá até o dia adormecer
Deixei-me ficar até eu adormecer...
Notas íntimas
"Jamais tive uma decisão nascida do auto-domínio, jamais traí externamente uma vontade consciente. Os meus escritos, todos eles ficaram por acabar; sempre se interpunham novos pensamentos, extraordinárias, inexpulsáveis associações cujo termo era o infinito."
Fernando Pessoa (1910?)
Fernando Pessoa (1910?)
quinta-feira, novembro 25, 2004
Desespero
Estou só, com medo, perdida e confusa... As palavras fogem-me tal como o choro que penso ser alívio. A capacidade de analisar evaporou-se, a razão ausentou-se... Não sei pensar e não sei sentir. Que sei eu afinal? O que ando a fazer? A réstia de inspiração que julguei ter aliou-se à razão e abandonou-me... Sinto que fiquei sem nada, nua e vazia. Um vazio diferente dos outros; um vazio que já não sei caracterizar; um vazio que me contorce e me agonia; um vazio que afinal me faz sentir. Não é, então, tão vazio assim... É mais um aperto junto ao peito que dificulta a respiração e me faz soltar gritos de silêncio. Sinto-me presa ao meu chão de repugna, aquele que me é tão familiar. É um desespero... Um desespero calado e disfarçado. Não daqueles que me faz trepar paredes, mas daqueles que me faz engolir a mim própria.
quarta-feira, novembro 24, 2004
Insónia
Oh retrato da Morte, oh Noite amiga,
Por cuja escuridão suspiro há tanto!
Calada testemunha de meu pranto,
De meus desgostos secretária antiga!
Pois manda Amor que a ti somente os diga,
Dá-lhes pio agasalho no teu manto;
Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto
Dorme a cruel, que a delirar me obriga.
E vós, oh cortesãos da escuridade,
Fantasmas vagos, mochos piadores,
Inimigos, como eu, da claridade!
Em bandos acudi aos meus clamores;
Quero a vossa medonha sociedade,
Quero fartar meu coração de horrores.
Bocage
Por cuja escuridão suspiro há tanto!
Calada testemunha de meu pranto,
De meus desgostos secretária antiga!
Pois manda Amor que a ti somente os diga,
Dá-lhes pio agasalho no teu manto;
Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto
Dorme a cruel, que a delirar me obriga.
E vós, oh cortesãos da escuridade,
Fantasmas vagos, mochos piadores,
Inimigos, como eu, da claridade!
Em bandos acudi aos meus clamores;
Quero a vossa medonha sociedade,
Quero fartar meu coração de horrores.
Bocage
Roma e Grécia
"(...) ninguém compara a grandeza ruidosa de Roma à super-grandeza da Grécia. A Grécia criou uma civilização, que Roma simplesmente espalhou, distribuiu. Temos ruínas romanas e ideias gregas. Roma é, salvo o que sobremorre nas fórmulas invitais dos códigos, uma memória de uma glória; a Grécia sobrevive-se nos nossos ideais e nos nossos sentimentos."
Fernando Pessoa (1912)
Fernando Pessoa (1912)
Antítese
É a luz que espero
E a escuridão que finto
É o preencher que quero
E o vazio que sinto
É o sabor doce na boca
E o amargo no coração
É o horror nos olhos
E o bonito na imaginação
É o sorriso que forço
E a lágrima que cai
É o riso que esforço
E o choro que sai
É uma antítese que sou
E é isto que detesto
Não saber onde estou
Nem onde está tudo o resto
E a escuridão que finto
É o preencher que quero
E o vazio que sinto
É o sabor doce na boca
E o amargo no coração
É o horror nos olhos
E o bonito na imaginação
É o sorriso que forço
E a lágrima que cai
É o riso que esforço
E o choro que sai
É uma antítese que sou
E é isto que detesto
Não saber onde estou
Nem onde está tudo o resto
segunda-feira, novembro 22, 2004
Espírito de festa
As estrelas são pretas num céu repleto de luzes e ornatos coloridos, em noites de festa, onde os da terra convivem animadamente sem regras ou limites. Festejam o que nem sabem e festejam porque sabe bem o vinho na boca e o jogo diante de seus olhos. Atiram dardos, jogam cartas ou xadrez e ganham prémios sem valor algum ou do valor de uma exibição exarcebada de algo inútil que leva o corpo à exaustão e cujas consequências são as de dor e ressaca. O copo na mão, o cigarro na boca e os gestos bruscos e descoordenados são sinais de alguém que é capaz, com coragem e, por isso, merecedor de respeito. Os mais calados são fracos ou jovens; os que não dançam ou cantam são perdedores e inúteis em festas de pompa igual. O espírito necessário é de alguém que grite, cante, dance, sem vergonha e com coragem para mostrar aos outros tudo o que sabe, embora, muitas das vezes nada de proveitoso, uma vez que, se limitam à demonstração de palhaçadas normalmente bem vindas e aplaudidas pelos que assistem. É este o espírito verdadeiro de festa, alguém que perde o contacto com a realidade e que transborda as emoções correntes agindo da forma que bem lhe apetecer. É assim que vivemos em tempo de exaltação, dotados de um espírito iludido com luzes e prémios, enganados pelo próprio engano, cegos para a vida e com a incapacidade impressionante de encarar a realidade. É assim que afogámos as nossas mágoas quando o pensar nelas nos provoca confusão, receio e tristeza...É assim que esquecemos que vivemos para aprender e para evoluír.
quinta-feira, novembro 18, 2004
Assim escrevo
Não é que tenha inspiração
Ou imaginação fértil
Ou até mesmo jeito
Simplesmente acontece
É um pouco ao acaso
Um propósito sem querer
Um diz que não
Para dizer sim
É como que um impulso
Uma vontade incontrolável
Um fascínio sem descrição
Um jeito sem jeito meio estranho
Ou é como um movimento
Independente e alheio
Um gesto que existe
E eu não sei como
É um acto irracional
Talvez emocional
Imaginativo e incerto
Estranho e agradável
É assim que escrevo
Não porque sei
Mas porque me apetece
E me sinto bem
Ou imaginação fértil
Ou até mesmo jeito
Simplesmente acontece
É um pouco ao acaso
Um propósito sem querer
Um diz que não
Para dizer sim
É como que um impulso
Uma vontade incontrolável
Um fascínio sem descrição
Um jeito sem jeito meio estranho
Ou é como um movimento
Independente e alheio
Um gesto que existe
E eu não sei como
É um acto irracional
Talvez emocional
Imaginativo e incerto
Estranho e agradável
É assim que escrevo
Não porque sei
Mas porque me apetece
E me sinto bem
Digo
Digo que não sou
Mas sou
Digo que não sinto
Mas sinto
Digo que sei
Mas não sei
Digo que dói
Mas não sinto
Digo que calo
Mas falo
Digo que sonho
Mas acordo
Digo que é belo
Mas não gosto
Digo por dizer
E não me calo
Digo que sim
Porque há não
Digo preto
Porque há branco
Digo feio
Porque há belo
Digo que falo
Mas não digo
Mas sou
Digo que não sinto
Mas sinto
Digo que sei
Mas não sei
Digo que dói
Mas não sinto
Digo que calo
Mas falo
Digo que sonho
Mas acordo
Digo que é belo
Mas não gosto
Digo por dizer
E não me calo
Digo que sim
Porque há não
Digo preto
Porque há branco
Digo feio
Porque há belo
Digo que falo
Mas não digo
quarta-feira, novembro 17, 2004
Livro
Deslizo os dedos pela capa
Sinto a textura rugosa
Levo-o junto à cara
E sinto o cheiro a papel velho
Uma primeira abertura
Arrasta páginas
Folheio-o com cuidado
E respiro a sua história
Deixo-me levar
Pelo deleite da leitura
Absorvo as palavras
E preencho-me de significados
Mergulho nas páginas
Desapareço noutro mundo
Alheio ao meu
Alheio ao vosso
Toca-me em sítios inatingíveis
Desconhecidos, impossíveis
No meu mundo, no vosso mundo
Não naquele mundo
Toca-me onde pensei
Não sentir o toque
Toca-me duma maneira
Que julguei não existir
Toca-me porque deixo
Porque mergulho
Porque adoro
Porque sim
É... não tem
É letras
É palavras
É significados
É poder
É calma
É suave
É profundo
É o que adoro
Que preenche
Que aquece
Que ilumina
É tudo aquilo
Que pode
Que atinge
Que toca
É um livro...
Sinto a textura rugosa
Levo-o junto à cara
E sinto o cheiro a papel velho
Uma primeira abertura
Arrasta páginas
Folheio-o com cuidado
E respiro a sua história
Deixo-me levar
Pelo deleite da leitura
Absorvo as palavras
E preencho-me de significados
Mergulho nas páginas
Desapareço noutro mundo
Alheio ao meu
Alheio ao vosso
Toca-me em sítios inatingíveis
Desconhecidos, impossíveis
No meu mundo, no vosso mundo
Não naquele mundo
Toca-me onde pensei
Não sentir o toque
Toca-me duma maneira
Que julguei não existir
Toca-me porque deixo
Porque mergulho
Porque adoro
Porque sim
É... não tem
É letras
É palavras
É significados
É poder
É calma
É suave
É profundo
É o que adoro
Que preenche
Que aquece
Que ilumina
É tudo aquilo
Que pode
Que atinge
Que toca
É um livro...
Cair
É o sono e a confusão
O neveoeiro e o cansaço
O pesar e o turbilhão
O frio de aço
O gelo no coração
O tapar da visão
A pedra na mão
A amarga desilusão
O cair do corpo
O desistir da alma
O olhar morto
A estranha calma
É um fechar
Cerrar
Calar
Ficar
A agonia e a dor
Do fingir sentir
O perder do amor
Do que é existir
Um morrer
Perder
Falecer
Esquecer
O neveoeiro e o cansaço
O pesar e o turbilhão
O frio de aço
O gelo no coração
O tapar da visão
A pedra na mão
A amarga desilusão
O cair do corpo
O desistir da alma
O olhar morto
A estranha calma
É um fechar
Cerrar
Calar
Ficar
A agonia e a dor
Do fingir sentir
O perder do amor
Do que é existir
Um morrer
Perder
Falecer
Esquecer
segunda-feira, novembro 15, 2004
Noite de brisa
A leve brisa da noite acaricia a face
O luar brilha no olhar
Na longa espera que tudo passe
Sento-me a ver a noite acabar
O sabor da canela ainda nos lábios
O cheiro nos cabelos a madeira e vela queimada
Um toque suave em instantes sábios
Foram memórias duma noite passada
O abraço forte e envolvente
O balançar carinhoso e lento
Uma respiração quente
Presente nas noites de alento
A lareira apagada
A vela derretida
Uma noite passada
Sem despedida
O beijo que se afasta
A mão que desliza
Um olhar que basta
Numa noite de brisa
O luar brilha no olhar
Na longa espera que tudo passe
Sento-me a ver a noite acabar
O sabor da canela ainda nos lábios
O cheiro nos cabelos a madeira e vela queimada
Um toque suave em instantes sábios
Foram memórias duma noite passada
O abraço forte e envolvente
O balançar carinhoso e lento
Uma respiração quente
Presente nas noites de alento
A lareira apagada
A vela derretida
Uma noite passada
Sem despedida
O beijo que se afasta
A mão que desliza
Um olhar que basta
Numa noite de brisa
segunda-feira, novembro 08, 2004
Não sou eu
Olho-me ao espelho, mas não me vejo; aquele corpo não me pertence... Nada do que vejo é meu e muito menos eu. Não me identifico com o corpo nem com o nome. Chamam-me, mas não olho. Não é por mim que chamam, chamam por um nome. Não me expresso pelas mãos que tanto adoro ou pelos olhos que misteriosamente aprecio. Nada do que mostro sou; nada do que sou mostro. Vivo uma fantasia perturbada, vagueando por caminhos que finjo conhecer. Sinto-me cheia do vazio, pois engano-me a cada momento com ilusões planeadas e passos em falso. Tudo são cenas em palco e nada é real. Tudo é artificial e nada é real. Aqui tudo é efémero e nada me pertence. Afundo-me em papéis e pensamentos...Sufoco com lágrimas secas e sorrisos apagados...Perco-me nos lençóis do meu ser e nas palavras da minha vida...Complico o simples, mas ainda assim tento compreender o complicado. Minhas mãos murcham as flores, meu olhar esfaqueia as peles... Sinto-me a cair, mas continuo em palco. Sinto-me a fugir, mas encontro-me presa por amarras ténues que não sou capaz de quebrar. Sinto-me morrer, mas existo sem o corpo.
quarta-feira, outubro 13, 2004
Rumos
Queixamo-nos do sofrimento, mas conseguimos viver sem ele? É mais um sentimento que nos faz sentir vivos. É talvez o sentimento que conhecemos melhor. Mas digam lá se não devemos agradecer tanto sofrimento.. É através dele que aprendemos a maior parte das coisas na nossa vida. Podem-nos avisar com todo o amor que uma certa coisa nos prejudica, mas só conseguimos perceber esse prejuizo quando o sentimos "na pele". Digam a um puto pequeno que se puser os dedos na tomada vai apanhar um choque.. ele fica a pensar o que será um choque, então lá vai ele descobrir e a partir do momento em que o sentiu, passou a saber o que é, e se por acaso não gostou, não vai voltar a fazê-lo.
Acham mesmo que evoluimos a partir do amor? Eu não. Somos demasiado preguiçosos e, numa palavra menos específica, "burros", para evoluirmos sem sofrer. Basta ver que fazemos bastantes borradas, sofremos as consequências desses actos, mas no minuto a seguir somos capazes de fazer o mesmo. Não é uma situação digna de um abanão?
Nós que somos tão inteligentes...Não temos a capacidade de perceber que se escolhermos seguir por um certo caminho que nos leva a consequências desastrosas, esse caminho não é dos melhores? Não temos a inteligência suficiente para analisar a nossa vida e tomar rumos diferentes quando necessário?
Penso que temos essa inteligência, mas o caminho mais fácil é sempre pelo que seguimos. Apercebemo-nos que algo está mal, mas dá tanto trabalho mudar...
Há quem pense que se vamos morrer porquê darmo-nos ao trabalho...Mas e se a vida depois da morte existir mesmo? Ou se for apenas uma transformação na nossa vida e não um fim? A desculpa da morte é mesmo apenas uma desculpa... Vivemos por algum motivo. Não se questionam porque motivo nasceram? O que vieram cá fazer? Claro que sim... O difícil é encontrar as respostas, por isso temos que fazer o possível para as encontrar. O papel de vítima é o mais confortável, mas também o mais cobarde. Talvez pareça falar por falar. Confesso que também eu tenho que percorrer esse caminho, estou apenas a relatar ou a tentar relatar o meu ponto de vista.
Deixo aqui este pensamento, talvez um pouco mal estruturado e incompleto, mas por agora fica assim.
Acham mesmo que evoluimos a partir do amor? Eu não. Somos demasiado preguiçosos e, numa palavra menos específica, "burros", para evoluirmos sem sofrer. Basta ver que fazemos bastantes borradas, sofremos as consequências desses actos, mas no minuto a seguir somos capazes de fazer o mesmo. Não é uma situação digna de um abanão?
Nós que somos tão inteligentes...Não temos a capacidade de perceber que se escolhermos seguir por um certo caminho que nos leva a consequências desastrosas, esse caminho não é dos melhores? Não temos a inteligência suficiente para analisar a nossa vida e tomar rumos diferentes quando necessário?
Penso que temos essa inteligência, mas o caminho mais fácil é sempre pelo que seguimos. Apercebemo-nos que algo está mal, mas dá tanto trabalho mudar...
Há quem pense que se vamos morrer porquê darmo-nos ao trabalho...Mas e se a vida depois da morte existir mesmo? Ou se for apenas uma transformação na nossa vida e não um fim? A desculpa da morte é mesmo apenas uma desculpa... Vivemos por algum motivo. Não se questionam porque motivo nasceram? O que vieram cá fazer? Claro que sim... O difícil é encontrar as respostas, por isso temos que fazer o possível para as encontrar. O papel de vítima é o mais confortável, mas também o mais cobarde. Talvez pareça falar por falar. Confesso que também eu tenho que percorrer esse caminho, estou apenas a relatar ou a tentar relatar o meu ponto de vista.
Deixo aqui este pensamento, talvez um pouco mal estruturado e incompleto, mas por agora fica assim.
Responde-me
Lua que emerges da escuridão da noite,
Vês-me na janela com olhar melancólico?
Nevoeiro que escondes tudo em teu redor,
Vês-me a caminhar na confusão?
Frio que congelas sentimentos,
Não me vês a sofrer em caminhos vazios?
Não me vês Natureza anciando por tudo e nada?
Não sentes meus desejos estranhos?
Não percebes que quero o que não posso?
Não vês que não me vejo?
Não me encontro...
Não me sinto...
Já não sinto o sufoco na garganta
Nem o ardor no peito a que me habituei
Já não ouço aquela voz
Nem o grito mudo no escuro
Onde está a dor?
Que foi feito de mim?
Vês-me na janela com olhar melancólico?
Nevoeiro que escondes tudo em teu redor,
Vês-me a caminhar na confusão?
Frio que congelas sentimentos,
Não me vês a sofrer em caminhos vazios?
Não me vês Natureza anciando por tudo e nada?
Não sentes meus desejos estranhos?
Não percebes que quero o que não posso?
Não vês que não me vejo?
Não me encontro...
Não me sinto...
Já não sinto o sufoco na garganta
Nem o ardor no peito a que me habituei
Já não ouço aquela voz
Nem o grito mudo no escuro
Onde está a dor?
Que foi feito de mim?
domingo, outubro 03, 2004
Perdi-me
Perdi-te há muito tempo.
Já não te vejo,
Não te ouço,
Nem te sinto.
Duvido da tua existência.
Foste imaginação, sonho, fantasia?
Alguma vez te senti?
Que foste tu?
Porque desapareceste?
Desejo-te, mas não te conheço mais.
Foste feita para mudar?
Foste feita para desaparecer?
Serás para sempre diferente?
Tenho saudades de algo que já não conheço.
Querer-te-ei eu de volta?
Amar-te-ei agora neste presente?
As dúvidas percorrem-me.
Serás tu, memória escondida,
Um escape ao meu presente?
Serás algo criado por mim
Apenas como refúgio?
Serás desculpa, razão?
Quero-te mas esqueço-te...
Já não te vejo,
Não te ouço,
Nem te sinto.
Duvido da tua existência.
Foste imaginação, sonho, fantasia?
Alguma vez te senti?
Que foste tu?
Porque desapareceste?
Desejo-te, mas não te conheço mais.
Foste feita para mudar?
Foste feita para desaparecer?
Serás para sempre diferente?
Tenho saudades de algo que já não conheço.
Querer-te-ei eu de volta?
Amar-te-ei agora neste presente?
As dúvidas percorrem-me.
Serás tu, memória escondida,
Um escape ao meu presente?
Serás algo criado por mim
Apenas como refúgio?
Serás desculpa, razão?
Quero-te mas esqueço-te...
quinta-feira, setembro 30, 2004
Melancolia
Trago em mim o sabor amargo da melancolia...
A leve sombra do passado, presente e futuro...
Trago em mim o que necessito...
Trago em mim o desconhecido...
Sinto-me perdida...
Mergulhada...
Escondida...
Sombria e fria...
Vazia e preenchida
Do que não quero e do que desejo...
Assemelho-me ao chão que tanto me repugna...
Sem forças...
Sem vontade...
Sem coragem...
Permaneço, assim, estendida...
Sim, sou masoquista...
Gosto do meu sofrimento...
Faz-me sentir viva...
Desperta-me...
A saudade da dor invade-me
Quando um ligeiro sorriso percorre meus lábios...
Fecho os olhos...
Mergulho novamente na melancolia do meu ser.
A leve sombra do passado, presente e futuro...
Trago em mim o que necessito...
Trago em mim o desconhecido...
Sinto-me perdida...
Mergulhada...
Escondida...
Sombria e fria...
Vazia e preenchida
Do que não quero e do que desejo...
Assemelho-me ao chão que tanto me repugna...
Sem forças...
Sem vontade...
Sem coragem...
Permaneço, assim, estendida...
Sim, sou masoquista...
Gosto do meu sofrimento...
Faz-me sentir viva...
Desperta-me...
A saudade da dor invade-me
Quando um ligeiro sorriso percorre meus lábios...
Fecho os olhos...
Mergulho novamente na melancolia do meu ser.
quarta-feira, setembro 29, 2004
Isto
Dizem que finjo ou minto
Tudo o que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê.
Fernando Pessoa
Tudo o que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê.
Fernando Pessoa
terça-feira, setembro 28, 2004
sábado, setembro 25, 2004
Introdução
Queria fazer deste blog o meu espaço de recolhimento e reflexão. Mas porquê fazê-lo aqui e não num caderno, como já tenho vindo a fazer? Porquê expôr os meus pensamentos a olhares curiosos? Sabendo que estou sujeita a críticas exteriores porquê criar este blog?
Pensei várias vezes na hipótese de não o fazer, mas considerei o facto das críticas feitas pelos outros serem proveitosas para a remodelação das minhas opiniões. Penso que é necessário considerar várias opiniões e diferentes conhecimentos para podermos criar melhor um ponto de vista, além de ter a vantagem da minha escrita não ficar enterrada num caderno perdido no meio de tantos outros...Dou assim "asas" à minha opinião duma maneira diferente. Não pretendo escrever textos bonitos, mas apenas tentar ser o mais verdadeira possível nas minhas palavras.
Não sei bem qual o objectivo deste blog, estas são ideias vagas do que queria que ele fosse. Quando não tiver a gostar não volto a pôr cá os dedos.
E deixo assim a minha introdução neste blog, espero ter a disposição suficiente para voltar a escrever aqui.
Pensei várias vezes na hipótese de não o fazer, mas considerei o facto das críticas feitas pelos outros serem proveitosas para a remodelação das minhas opiniões. Penso que é necessário considerar várias opiniões e diferentes conhecimentos para podermos criar melhor um ponto de vista, além de ter a vantagem da minha escrita não ficar enterrada num caderno perdido no meio de tantos outros...Dou assim "asas" à minha opinião duma maneira diferente. Não pretendo escrever textos bonitos, mas apenas tentar ser o mais verdadeira possível nas minhas palavras.
Não sei bem qual o objectivo deste blog, estas são ideias vagas do que queria que ele fosse. Quando não tiver a gostar não volto a pôr cá os dedos.
E deixo assim a minha introdução neste blog, espero ter a disposição suficiente para voltar a escrever aqui.
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