sábado, maio 09, 2009

As pessoas não lidam muito bem com a ausência de modéstia. E preferem-na, mesmo que seja falsa modéstia. Não gostam de pessoas realistas. Como se o realismo fosse defeito, e devêssemos, para conveniência de todos, oscilar entre optimistas e pessimistas, para podermos ser os coitadinhos ou os idealistas. Agora realistas? Não... isso é demasiado... real. E as pessoas realistas são aborrecidas. As pessoas auto-conscientes. As pessoas auto-conscientes são aborrecidas. Pouco se lhes pode dizer sobre elas que elas já não saibam. E por isso não podemos dar numa de salvadores ou terapeutas porque os auto-conscientes, os realistas, já sabem o que lhes vamos dizer. E quando lhes dizemos algo que eles não conseguem aceitar, somos nós quem está errado porque eles sabem muito mais deles do que nós. Nós, pouco realistas, adoradores da falsa modéstia, nós sabemos-lhes pouco. Mas não é por isso que nos coibimos de dar palpites, fazer juízos, acusar e julgar. Porque nós, preguiçosos, que não nos damos ao trabalho de pensar em nós, julgamos que sabemos muita coisa e não queremos crer que existem pessoas realistas que por o serem, não são arrogantes, são só mais interessantes que nós, e irritamo-nos quando nos apercebemos inúteis, ainda que não tenhamos bem a certeza do que nos irrita nem que somos, de facto, inúteis.

08 Maio 2009

sexta-feira, maio 01, 2009

Vão todos p'ro caralho!

Como se o sofrimento fosse desculpa para sermos o que somos.


E será? Eu costumo acreditar que sim.

Se não acreditasse nisso, não podia acreditar que não existem más pessoas.

Mas se Deus nos criou, simples e ignorantes, como viemos nós ter aqui? Por que é o caminho do mal o primeiro a ser escolhido e só mais tarde o caminho do bem? Por que é que conforme evoluímos, vamos para o bem? Ou seja, por que partimos do mal?

Isto leva-me a crer que o mal é necessário. Seja lá o que o mal for.

É que também acredito que não há injustiça. Que tudo existe da forma como deveria existir. Que umas coisas impulsionam outras e vivemos todos numa grande roldana, aliás fazemos parte dela.

Assim sendo, o que é o mal?

Se não há injustiça, também não há justiça. O que me leva àquela velha questão da unidade e da dualidade. Estamos em direcção à unidade? Tal como partimos do mal para o bem, partimos da dualidade para a unidade?

Mas se não acredito em injustiça e portanto também não acredito em justiça, não haverá dualidade. A não haver dualidade, embora nos continue a parecer que sim, não será tudo isto uma ilusão?

Só não conseguimos ver o grande plano, não é? Como peixes dentro de água que não sabem que estão dentro de água nem o que ela é.

Não sei se sempre achei isto, mas a melhor perspectiva há de ser aquela em que conseguimos ver as coisas do “lado de fora”. Se formos peixes dentro de um aquário, como poderemos ver as coisas desse prisma?

E isto leva-me à, também velha, conclusão: somos apenas ser humanos. E embora pareça muito, é tão pouco.

Não é fatalismo, porque também acredito que não ficamos por aqui. De facto, eu não sou um ser humano, eu vou sendo um ser humano. Até ao dia, ao momento, à altura, em que não precise de o ser. Até à altura... Já não sei o que escrevo.

 

A verdade é que quando apanhamos com um vaso em cima, ficamos mais atentos, pensamos melhor, ficamos mais fortes. E por isso digo sem pudor que me apetece mandar alguém p’ro caralho. Porque ainda sou humana e ninguém sabe o que me vai cá dentro. Sendo ou não cliché esta frase, ninguém conhece as entranhas de ninguém e por isso não me venham com conclusões e definições e juízos. Vão pr’o caralho aqueles que julgam que me conhecem, aqueles que ousam opinar sobre a forma como penso a vida com a arrogância dos ignorantes. Vão pr’o caralho hoje porque hoje sou ainda mais humana porque apanhei com um vaso em cima e o meu ego dói. Vão pr’o caralho porque só vos mandando pr’o caralho é que me sinto melhor, só vos mandando pr’o caralho... Que os ignorantes não sabem e por isso não os podemos mandar pr’o caralho.

 

O que eu queria mesmo era escrever um livro.

E que o peito deixasse de doer para eu poder dormir.
15 Fevereiro 2009

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Desculpas

Tenho o mau hábito de desistir das coisas antes de tentar, antes de poder dizer que dei o que tinha, que fiz o que pude. Normalmente, não me permito chegar à etapa em que posso ter falhado, mesmo dando o meu máximo. Deixo-me ficar pelos degraus mais baixos para poder ter uma desculpa para não ter atingido o êxito. Quanto mais penso nisso, mais me apercebo que ajo sempre por precaução, fujo ao risco, ao perigo, à coragem. Sou uma vítima de mim mesma e sinto-me confortável nessa posição porque não dá trabalho. Será que não vou mais além com medo de não ser capaz? Será mesmo essa a minha estratégia? Guardar-me na crença de que sou melhor, de que consigo mais, mas que apenas não o demonstro porque não me esforço?