segunda-feira, fevereiro 28, 2005

No dia um

Está demasiado calmo para escrever,
Escrever da forma que o tenho feito:
Com todos aqueles lamentos,
Todas aquelas lágrimas engolidas,
Aquelas feridas abertas e aquela dor...

As palavras soam-me tão estranhas
Tão distantes, sem sentido...
Os meus dedos tentam alcançá-las
Porém, o esforço perde-se no ar
E os dedos acabam por desistir.

Não sei escrever palavras bonitas
Como aquelas que se gostam de ler
Ou aquelas que obrigam a repensar

Essas palavras não as encontro
Para paz interior e finais felizes,
Apenas para desespero da falta
Dessas emoções a atingir...

Ouço as gargalhadas dos que conversam,
O galope desenfreado da cadela...

01 de Janeiro de 2005

[Encontrava-me, nesta altura, numa aldeia ecológica. O ar era tão puro, o verde tão bonito, as montanhas inspiradoras e uma calma pairava em mim. O yoga, a dança e a meditação eram práticas correntes o que conferia uma paz (ainda que momentânea) de espiríto. Passei lá apenas uma noite e uma tarde, mas adorei a experiência. Foi, com certeza, a melhor passagem de ano que já tive oportunidade de experienciar.]

domingo, fevereiro 27, 2005

The Chains of Our Mind

It seems what makes us happy
Is what we wanted to have
It seems our present happiness
Has its place in the past

It seems we don’t seek the future
But we regret what it’s gone
And we don’t live the present
Trapped with all these thoughts

We go round and round…
Staying always in the same place
We don’t seem to find a way
To get free from these chains

16th January 2005

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Afastamento

Já não sabes disfarçar que a minha presença te incomoda, que a minha imagem fere os teus olhos. Já não sabes disfarçar... Eu vejo na tua cara o desgosto quando me aproximo, as tuas expressões e os teus olhares confirmam os receios que sempre tive. Os receios que nunca me abandonaram porque me sentia insegura face ao que se passava. Foi tudo tão rápido e tão intenso que nunca julguei que durasse por muito tempo. Tudo o que nos era comum parecia ilusão; todos os olhares amáveis que substituiam as palavras, todos os sons desencadeados que formavam conversas... Nesse espaço de tempo senti-me intimimamente ligada a ti, julguei ter encontrado alguém com quem um simples gesto bastava, alguém com os mesmos gostos e ideias, com as mesmas paixões e com necessidades semelhantes... Mas o tempo passou... e os meus receios realizaram-se, os meus receios realizaram-se! Naquela alegria, tantas vezes eufórica, senti-me bem, compreendida e arrisco-me a dizer amada, mas o mundo fora desse circuito continuava e tu e eu viviamos nele, mas nele eu não quis continuar... sentia-me receosa de continuar num mundo com o qual nunca me identifiquei tanto como contigo. Mas tu tinhas uma vida nesse mundo e, muitas vezes, tentei seguir-te, caminhar contigo, integrar-me, mas sempre me senti uma intrusa, uma desconhecida... Era o teu mundo não o meu, um mundo há muito construido por ti e no qual nunca tinha existido. Era tão difícil sentir-me parte dele. Até que cometi um erro. Quando me tentei ligar a outra pessoa, quando julguei que o tempo nos ajuda a gostar, mas afinal... Esse tempo causou problemas e, penso que foi nessa altura que tudo se quebrou. Quando senti vergonha de falar com um olhar, quando já pouco me contavas, quando te senti a afastar. Foi apenas nessa altura que me senti cansada de variar o meu humor pelos teus, foi aí que senti que tu para mim agias de outra forma. Senti-me triste... os meus receios apoderavam-se, agora, de mim com uma força extraordinária. As minhas emoções para contigo começaram a variar a um ritmo muito acelerado e, então, calei-me e afastei-me. Esperei, sinceramente, que sentisses a minha falta e viesses ter comigo e esse foi outro dos meus erros. Não tinha o direito de esperar tal coisa. Mas eu quis apenas uma prova... E, assim de repente, tudo o que se tinha passado entre nós pareceu-me um sonho muito longínquo. A nossa ligação quebrou-se como um vidro... rachou, aos poucos foram caindo pedaços, com o tempo foram calcados e agora já não são se vêem... estão enterrados no chão. Tento passar por cima e esquecer porque sei que nada jamais será igual... a mágoa profunda não deixa. Mas é tão difícil fazer de conta que nada se passou! É difícil tentar esquecer a única pessoa com quem mais me identifiquei. Por isso, espero tanto poder sair daqui e ir para um sítio longe onde as recordações não me visitem, onde tudo seja novo e onde possa começar, uma vez mais, do zero. É errado... mas o passado jamais tornará a ser presente e o futuro que se aproxima não traz a estrutura desse período que tanto amei. E deambulo, agora, por aqui e por ali esperando...

sábado, fevereiro 19, 2005

Por cobardia

Por vezes, quero tanto voar...! Levantar os pés, erguer o corpo e lançar-me à escuridão da noite, esperando ser agarrada pelos seus braços, esperando ser abraçada pelo bafo envolvente do seu ar. Quero sentir-me envolvida naquela névoa suave; quero ser aconchegada pelo poder do seu sopro. Quero sentir o frio gélido, que passeia no ar, gelar-me o nariz, moldar-me a cara e entrar, sorrateiramente, no meu corpo e quero ver o vapor sair da minha boca e desvanecer-se no céu escuro.
Quero sentir-me a voar de encontro às estrelas; de encontro aos chamados anjos. Quero ter o que parece ser uma utopia: a paz de espírito que fará com que possa dormir descansada. Sim... quero poder fechar os olhos sem receios, estender os braços e suspirar... Quero poder expôr-me ao mistério da noite sem medos. Quero ser assim, segura de mim, livre do mundo provocador e sentir-me em consonância com o mundo puro. Quero ter os olhos bem abertos para poder ver com sentimento o escuro que me rodeia; para poder ver a claridade, o brilho, a magia do negro cerrado.
Quero olhar o céu em noites de lua-cheia e uivar... rasgar a pele e arrancar os ossos com cuidado e expôr os meus pulmões ao mundo.
Por vezes, quero tanto gritar... Abrir a boca e soltar a voz até ficar rouca e sem força. Quero cantar e lançar o meu som aos cantos do mundo.
E por vezes, quero tanto rasgar-me...! Despir as roupas, arranhar a pele, sangrar, correr e escorregar... Quero partir os dedos dos pés, virar os dedos das mãos, abrir a boca até cortar os lábios, estender os tendões do pescoço até não poder mais... Quero tanto soltar-me...! Não existir aqui, neste corpo imundo que me causa nojo e desgosto; este corpo que parece não ajudar e só me desgasta, que me impede e me anestesia. Quero ser uma só e mais ninguém.
Tantas vezes quis entrar dentro de mim e procurar, percorrer, encontrar... mas em cada tentativa uma nova porta me barrava o caminho, uma nova janela se fechava e me deixava às escuras num mundo tão desconhecido. Então, por vezes, ousei desistir... Ousei deixar as portas fechadas e o interior abafado. Ousei desistir porque não conseguia ver a luz... Quis a facilidade e não tive forças para continuar. Não quis percorrer o escuro com receio e acabei por barrar a entrada em mim. Tive medo; medo do que não via, do que não sabia e voltei para trás, tentando esquecer que um dia tentei, para que não vivesse com a memória dum falhanço. Não queria admitir o maior erro. Quis escondê-lo por detrás do sorriso e dos gestos amistosos, tentei ignorar a escuridão pensando que aquela porta não seria necessária aberta e enclausurei, então, o meu ser naquele mundo frio e dum negro pesado que me turva a mente. Desisti, porque a cobardia, uma vez mais, se revelou em mim. Sou cobarde e o peso da preguiça faz-me rastejar nestes chãos sujos que vomito... Ah! Como pude pensar que seria fácil? Como pude fechar-me por dentro e pensar que seria a melhor maneira? Que seria a melhor maneira, deixar-me às escuras e ir viver para um mundo de falsas luzes e enganos constantes... Como pude ser tão enganada por mim? Eu sei e talvez sempre soubesse que o meu ser definhava dentro das portas que construi em mim. Eu sei e sempre soube que teria que lidar com a sua tristeza, mais cedo ou mais tarde. Contudo, também sei que lido com ele todos os dias... De cada vez que solto um som mais forte, de cada vez que escrevo uma palavra, que crio poemas e relatos de mim... de cada vez que amuo quando o orgulho se sobrepõe. Sem me aperceber, deixo fugir um pouco do meu ser de dentro de mim a cada instante, a cada risada, a cada olhar, por mais que o tente desviar... Sei que sou sem querer e também sei que o que sou é, muitas vezes, as palavras rudes, o fugir de um gesto afectuoso, o refugiar-me na distância. Sei que, talvez, possa ser presente pela minha ausência ou pela minha euforia estranha. Sou uma antítese aos olhos do mundo e aos meus olhos. Em suma, mostro o meu ser a todos a todo o momento... todavia, a subtileza desse mostrar pode-se desvanecer na brisa do dia. Por isso, anseio as noites. Anseio o escuro porque sei que é dele que fujo, porque sei que é ele que tenho de enfrentar. Tento formar a coragem à medida que sinto o momento chegar... mas, por todas as vezes, vou dormir mais cedo deixando a batalha para outra noite. Vou descansar o corpo, esperando amassar a memória de outra noite de derrota por ausência. Tento esconder-me no sono e perder-me nos sonhos de um mundo alheio e tão meu. Por isso, custa o acordar... Não! Não quero levantar-me e esperar por outro momento de luta que sei que nunca conseguirei vencer.

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Hurt

I hurt myself today
To see if I still feel
I focus on the pain
The only thing that's real
The needle tears a hole
The old familiar sting
Try to kill it all away
But I remember everything

What have I become?
My sweetest friend
Everyone I know
Goes away in the end
You could have it all
My empire of dirt
I will let you down
I will make you hurt

I wear my crown of shit
On my liar's chair
Full of broken thoughts
I cannot repair
Beneath the stain of time
The feeling disappears
You are someone else
I am still right here

What have I become?
My sweetest friend
Everyone I know
Goes away in the end
You could have it all
My empire of dirt
I will let you down
I will make you hurt
If I could start again
A million miles away
I would keep myself
I would find a way

Nine Inch Nails

Resolvi fazer post desta música porque a adoro. Tem uma letra fenomenal, muito tocante e sentida, bem como a melodia que é bastante calma e nos embala nos sons e nas palavras.
Aproveito também para dedicar este post à pessoa que me deu a conhecer a música que, por sua vez, também gosta muito dela. Na minha opinião, e ainda não confrontei a pessoa com esta, a letra da música tem muito a ver com o seu ser; a ideia contida é muito semelhante aos seus pensamentos e certos versos são semelhantes a frases que outrora disse numa das nossas conversas alargadas.
Apercebi-me desse facto há pouco enquanto me deixava levar pela música e achei necessário mostrar-to, duma forma personalizada, devo dizer :)

sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Assim

Tenho saudades de escrever como já não me lembrava, mas sinto que as minhas mãos estão magoadas, frágeis e sem forças. A minha cabeça pesa-me e não consigo pensar com clareza. Os sentimentos formam nós que me apertam o coração. O meu coração que é frio e duro como uma rocha, aquele a quem nunca ninguém tem acesso e, portanto, do qual nada sabem. O meu coração é assim... pequeno, gélido e só... Pequeno porque o aperto com as amarras da repugnância do emocional; gélido porque não permito em tempo algum que um raio de luz ou uma onda de calor nele penetre; só porque os outros não fazem nem nunca farão parte dele. É assim, sobrevivente da minha malícia, esquartejado pelas minhas próprias mãos, sufocado pelo aperto de não querer sentir... Eu sou o meu coração. Aquela que não se dá nem deixa que lhe deêm. A que sorri com vontade na presença dos outros, mas chora sozinha no seu canto. Aquela que tem vergonha das suas lágrimas e engole-as com o desgosto num sufoco. A que fica com o sabor amargo na boca das palavras mal ditas, a quem dói os ouvidos por não saber escutar, a que se revolta por não saber compreender. Esta sou eu. A distante, a ausente, a rapariga dos sorrisos frios, das mãos gélidas e dos olhos grandes e baços... Os olhos que já não são janelas para o interior, mas vidros embaciados por entre os quais nada é visível. Sou a rapariga da euforia da rua e da tristeza do quarto fechado. O que sinto está enterrado em mim e nas minhas palavras. Os meus textos são o ponto de luz na escuridão da minha própria incompreensão. São a minha libertação do sufoco das lágrimas secas e dos sorrisos apagados... São o guindaste amável que afasta o peso da minha cabeça. São as mãos delicadas de um ninguém que me massaja os ombros e a face. São a brisa morna de Verão que me oferece uma calma momentânea. Os meus textos são a fonte de serenidade que resta em mim. Deixo nas palavras rudes e desencadeadas o sentimento recalcado do meu coração. Transfiro o meu sofrimento para os textos para sentir o meu próprio alívio. Deixo a vós, palavras, a linha que cose o meu coração, o fogo que queima as minhas mãos, as lágrimas ácidas que corroem os meus olhos, a amargura que me resseque os pulmões e a secura que me empasta a boca. Deixo-vos os meus gritos para que me dêm o silêncio e deixo-vos o meu ser agitado para que eu possa dormir sem pressaltos.

Deixem-me...


Raquel (olhares.com)

Deixem-me porque eu quero o silêncio que nunca existe... Deixem-me porque eu quero o que não me podem dar... Deixem-me porque eu sou uma antítese e causo danos em meu redor... Deixem-me porque sou rude, revoltada e sem mão nos meus actos... Deixem-me porque não quero ser responsável... Deixem-me porque me sinto morta, presa ao chão e lá quero ficar... Deixem-me porque eu sei que assim não vos perturbo mais...

07 de Dezembro de 2004

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Mergulhar

*

Sustenho a respiração
E mergulho...

Cansei-me do calor.

Quero algo fresco...
Preciso despertar!

Estendo os braços
E puxo-os para trás
Com toda a força que tenho.

Bato os pés energicamente
Para sentir os ossos estalar.

Preciso esticar o corpo.

Fecho os olhos
E deixo-me deslizar...
Sinto a agua fria
Moldar a minha cara.

Ah...! Arrefeço...

Encolho-me...
E deixo-me rolar
Ao sabor da àgua.

Sinto um turbilhão de sensações
Percorrer todo o meu corpo.
Mil imagens correm na minha mente.

Ah...! Sinto-me viva.

A frescura trespassa o corpo
E toca-me o espírito.

Agora posso sorrir...
* fotografia por Ricardo B. Gomes (olhares.com)

quarta-feira, fevereiro 09, 2005