Hoje vou tentar escrever algo feliz
Algo com um sabor doce e uma cor alegre
Deixo para trás, por hoje, o preto e branco
Deixo para trás lamúrios, choros e gritos
Esboço um sorriso para que seja mais fácil
Respiro fundo para sentir o que me rodeia
Fecho os olhos e inclino a cabeça para trás
Tento relaxar deste stress diário fatigante
Agora estou pronta para começar a escrita
Mas não sei o que sinto nem o que penso
Que posso eu escrever com esta indefinição?
Tento recordar... esforço-me por relembrar!
Um cheiro morno passa por meu nariz
Um sol quente aquece a minha face branca
Sinto-me a ganhar cor e a ficar com calor
Dispo instintivamente o casaquinho que trago
Sinto a brisa que brincava com meus cabelos
E, agora, vejo o verde da relva nos meus pés
Estou descalça e ela é macia e faz cócegas
E as flores dão cor a esta tela de sensações
Decido sentar-me nesta almofada natural
Banhada por esta luz suave e, agora, morna
Fecho os olhos, mole por todo este descanso
Passo os dedos pelas pétalas e pela relva
Sinto-me a subir...levada pela brisa morna
Deitada, com a cabeça nos braços recolhidos
Abro os olhos e vejo as nuvens de algodão
Sinto-me calma naquela imensa suavidade
Sinto-me a pairar sem o peso do corpo
Que fui obrigada a carregar quando nasci
Sinto-me, então, leve e livre de tentações
Deixo-me ir por onde me leva esta brisa
Não quero descer, não quero voltar
A terra já acho que conheço demasiado
O pó que me cega e me sufoca deixo-o lá
Lá em baixo onde a carne ficou sem mim
Agora sou só eu aqui neste ar diferente
Respiro um ar puro que nunca respirei
Não preciso beliscar-me, nem tocar-me
Sei que sou... Não é sonho...
Por isso, não receio acordar para a terra
Sei que estou desperta, mais que nunca
A anestesia do corpo deixei-a para trás
Sinto, agora, o despertar do espírito
Quero ir...
Não receio deixar tudo para trás
O mundo material em que vivi
O que me importa vem comigo
Vem em mim, faz parte de mim
Agora vou...
sexta-feira, janeiro 21, 2005
quinta-feira, janeiro 20, 2005
Chiu...
Lina Maria (olhares.com)
Quero só deitar-me na cama ou no chão e ficar... no meu silêncio, sem ouvir a respiração de mais ninguém a não ser a minha... a minha respiração lenta e pausada. Quero sentir-me e ouvir-me... Quero estudar-me e compreender-me. Quero ficar aqui... no escuro, no silêncio da minha alma inquieta, na minha paz... Não sei ao certo o que procuro, mas sei que o faço. Talvez queira encontrar a ternura do meu ser... Mas... querer-me-ei ver... verdadeiramente? Não sei... mas, para já, sei que quero silêncio, escuro e apenas eu.
terça-feira, janeiro 18, 2005
Incapacity
I try to express my thoughts
But I usually fail
I mix the words
And I find no trail
Then I try not to think
And just try to feel
To write the words
That can make me heal
But in this path
Foggy and uncertain
I find my wounds
Open, breathing pain
And so I just quit
Tired of this confusion
I leave my bruises
To a better surgeon
2nd January 2005
P.S. Prefiro o português para me exprimir, no entanto, decidi fazer post deste poema porque foi o primeiro que fiz em inglês.
But I usually fail
I mix the words
And I find no trail
Then I try not to think
And just try to feel
To write the words
That can make me heal
But in this path
Foggy and uncertain
I find my wounds
Open, breathing pain
And so I just quit
Tired of this confusion
I leave my bruises
To a better surgeon
2nd January 2005
P.S. Prefiro o português para me exprimir, no entanto, decidi fazer post deste poema porque foi o primeiro que fiz em inglês.
terça-feira, janeiro 11, 2005
MA
"Don't drag me down
Just because you're down
And just cause you're blue
Don't make me too(...)"
Massive Attack - Better Things
Just because you're down
And just cause you're blue
Don't make me too(...)"
Massive Attack - Better Things
segunda-feira, janeiro 10, 2005
Caminho
Há em mim um sufoco
Um desespero calado
Um caminho oco
Enfim, apagado...
Um destino sem traço
Com pés descalços
Um caminho sem passo
Por tantos precalços
Um medo envolvente
Tão medonho, tão frio
Tão temido, tão presente
Tão gélido como é o rio
E, assim me envolve
Num fechar cerrado
Que, por vezes, volve
O que não devia ser encontrado
Um desespero calado
Um caminho oco
Enfim, apagado...
Um destino sem traço
Com pés descalços
Um caminho sem passo
Por tantos precalços
Um medo envolvente
Tão medonho, tão frio
Tão temido, tão presente
Tão gélido como é o rio
E, assim me envolve
Num fechar cerrado
Que, por vezes, volve
O que não devia ser encontrado
25 de Novembro de 2004
Este poema ainda é do tempo em que escrevia poesia, por vezes, exageradamente. Não sei porque ficou guardado. Já não me lembro da altura em que o escrevi, mas sei que continua a aplicar-se a este presente. Não sei que mais dele dizer... saiu-me assim e assim ficou. Enfim... as palavras foram ditas.
És aborrecida!
Estou demasiado cansada para escrever algo decente. Mas houve um certo alguém que me despertou para tal e eu fiquei em bicos de pés. Conhecem a sensação? Aquela em que não conseguem pensar em muito mais a não ser em equilibrarem-se; não estão com os pés bem assentes no chão para raciocinarem nem com eles completamente no ar, a flutuarem, para deixar fluir as emoções. Pois bem, estou nesse impasse, a tentar decifrar se quero escrever ou não. Bem... com papel e caneta à minha frente a vontade aparece sempre; a questão é se eu serei capaz de fazer uso desses instrumentos que tanto valor têm para mim. Ah... e mais uma vez esta questão importuna-me. Tantas e tantas vezes já lhe dei o papel principal nos meus textos, mas não há maneira de se cansar dessa posição; sempre que penso em escrever, lá vem ela (contente da vida) para me pedir , ou exigir, um pouco mais de fama.
- Não te cansas que eu diga sempre o mesmo , ainda que por variadas palavras, acerca da tua pessoa?
É aborrecido, devo confessar. por vezes, ocorrem-me tantos (e diversos) temas e quando os tento escrever, lá vem ela intrometer-se. Parece que é apenas ela o infortúnio da minha vida, a questão de fundo dos meus problemas.
- Ah! como tu consegues aborrecer-me (até) quando me encontro em dias de sossego e sorrisos de aguarelas. Podias descansar um pouco (de preferência quando eu fosse escrever). Fazia-te a cama se necessário, desde que me deixasses na minha paz. E por tanto me importunares perco-me no raciocínio. Sei que ia escrever sobre um assunto que me anda a assolar, mas tu agora tiraste-me a vontade. Arre! Que o vento te leve.
- Não te cansas que eu diga sempre o mesmo , ainda que por variadas palavras, acerca da tua pessoa?
É aborrecido, devo confessar. por vezes, ocorrem-me tantos (e diversos) temas e quando os tento escrever, lá vem ela intrometer-se. Parece que é apenas ela o infortúnio da minha vida, a questão de fundo dos meus problemas.
- Ah! como tu consegues aborrecer-me (até) quando me encontro em dias de sossego e sorrisos de aguarelas. Podias descansar um pouco (de preferência quando eu fosse escrever). Fazia-te a cama se necessário, desde que me deixasses na minha paz. E por tanto me importunares perco-me no raciocínio. Sei que ia escrever sobre um assunto que me anda a assolar, mas tu agora tiraste-me a vontade. Arre! Que o vento te leve.
terça-feira, janeiro 04, 2005
"Nota ao acaso"
"O poeta superior diz o que efectivamente sente. O poeta médio diz o que decide sentir. O poeta inferior diz o que julga que deve sentir.
Nada disto tem que ver com a sinceridade. Em primeiro lugar, ninguém sabe o que verdadeiramente sente: é possível sentirmos alívio com a morte de alguém querido, e julgar que estamos sentindo pena, porque é isso que se deve sentir nessas ocasiões. A maioria da gente sente convencionalmente, embora com a maior sinceridade humana; o que não sente é com qualquer espécie ou grau de sinceridade intelectual, e essa é que importa no poeta. Tanto assim é que não creio que haja, em toda a já longa história de Poesia, mais que uns quatro ou cinco poetas, que dissessem o que verdadeiramente, e não só efectivamente, sentiam.
(...)
Quando um poeta inferior sente, sente sempre por caderno de encargos. Pode ser sincero na emoção: que importa, se o não é na poesia? Há poetas que atiram com o que sentem para o verso; nunca verificaram que o não sentiram. Chora Camões a perda da alma sua gentil; e afinal quem chora é Petrarca. Se Camões tivesse tido a emoção sinceramente sua, teria encontrado uma forma nova, palavras novas - tudo menos o soneto e o verso de dez sílabas. Mas não: usou o soneto em decassilábicos como usaria luto na vida.
O meu mestre Caeiro foi o único poeta inteiramente sincero do mundo."
Álvaro de Campos (1935?)
Nada disto tem que ver com a sinceridade. Em primeiro lugar, ninguém sabe o que verdadeiramente sente: é possível sentirmos alívio com a morte de alguém querido, e julgar que estamos sentindo pena, porque é isso que se deve sentir nessas ocasiões. A maioria da gente sente convencionalmente, embora com a maior sinceridade humana; o que não sente é com qualquer espécie ou grau de sinceridade intelectual, e essa é que importa no poeta. Tanto assim é que não creio que haja, em toda a já longa história de Poesia, mais que uns quatro ou cinco poetas, que dissessem o que verdadeiramente, e não só efectivamente, sentiam.
(...)
Quando um poeta inferior sente, sente sempre por caderno de encargos. Pode ser sincero na emoção: que importa, se o não é na poesia? Há poetas que atiram com o que sentem para o verso; nunca verificaram que o não sentiram. Chora Camões a perda da alma sua gentil; e afinal quem chora é Petrarca. Se Camões tivesse tido a emoção sinceramente sua, teria encontrado uma forma nova, palavras novas - tudo menos o soneto e o verso de dez sílabas. Mas não: usou o soneto em decassilábicos como usaria luto na vida.
O meu mestre Caeiro foi o único poeta inteiramente sincero do mundo."
Álvaro de Campos (1935?)
Citação
"Conheceram-me logo pelo que eu não era e eu não desmenti e perdi-me. Quando quis tirar a máscara estava colada à pele."
Álvaro de Campos
Álvaro de Campos
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