Já não sou a menina que há poucos anos era. A capa que me cobre é mais espessa e pesada e por isso já não danço tanto. Agora tenho vergonha, agora já não quero ser o meu interior porque ele está lá em baixo e é difícil chegar-lhe. Então não danço e, por isso, não sou tão bela como outrora.
Já não sou a menina que escrevia com o coração, a menina que não tinha medo de usar as palavras, a menina que não tinha medo pintar os textos de emoções. Já não sou leve, nem espontânea. Agora escolho as palavras tão zelosamente que magoa a cabeça e aperta ainda mais o coração. Hoje já não escrevo, passeio no dicionário. Hoje já não escrevo, contemplo a folha. Hoje já não escrevo, adormeço com os olhos molhados.Tanto lutei para escrever de cabeça que barrei passagem à fonte de toda a escrita. Tanto quis escrever "bonito" que perdi por completo a noção do que isso era. Tanto quis ser escritora que acabei por ter as folhas em branco e a caneta a transbordar de tinta. E dói. Mutilei-me na ânsia de me melhorar. Amputei o que era necessário por julgar dispensável e até incomodativo. E agora encontro-me nesta posição de querer fazer e já não saber como.
"Ele tinha muita razão quando disse: 'Podias ser mais criativa se não ligasses tanto aos outros. Precisas de reescrever uma frase 1001 vezes.' E por isso o meu processo de escrita centra-se mais num passo do que nos outros: paragem."
2 comentários:
Estás uma mulher, é o que é ;)
Gostei muito do texto =)
Escreve mais para tu leres, para tu escreves o que te vai na alma, para te sentires bem e claro para eu ler ;)
bj*
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