Estavas à porta do nosso café. Sentado no chão com as pernas cruzadas. Esperavas por mim. Soube-o quando me lançaste aquele teu olhar maroto. Sabia que tinhas planos para essa noite. Todos os traços da tua expressão denunciavam uma surpresa iminente.
Desci os degraus do nosso café em direcção a ti com um sorriso colado na cara. Já sabias que eu o sabia e o desejava alegremente. Pegaste-me pela mão, fizeste-me rodar e observaste-me com um olhar guloso. Paraste o meu lanço, seguraste-me a cabeça e beijaste-me. Um longo e húmido beijo envolvido em tanta paixão que provocou olhares curiosos e surpresos nos restantes. Corei. Corei imenso! (Como sempre.) Agarrei-te o braço e obriguei-te a correr para fugirmos dali.
Chegados ao parque de estacionamento, onde estava o meu carro, recuperámos o fôlego e rimos. Soltámos altas gargalhadas feitos loucos. O riso fazia-nos bem. Libertava a tensão. A ansiedade. O nervosismo. A antecipação. Ambos sabíamos o que se seguia. E ambos o desejávamos ardentemente.
Tirei a chave da bolsa e dirigi-me à porta do carro para a abrir, quando tu me enlaçaste a cintura amavelmente e me obrigaste a dar-te as chaves. Prendeste-me contra o carro entre os teus braços e olhaste-me. Profundamente. Contemplaste o meu olhar apaixonado e envergonhado. Olhámo-nos por uns momentos em silêncio. E sorriste. Um sorriso aberto, sincero. Sorri de volta. E beijaste-me. Os teus braços em volta do meu corpo aproximavam-me de ti. O mais possível. Juntos. Muito juntos. Quase desconfortáveis. Amei-te. Desejei-te. Apaixonei-me uma e outra vez. Num só beijo. Nesse beijo. O segundo dessa noite. O mais longo. O menos envergonhado, pois ninguém nos interromperia com o seu olhar inquisidor. Arrepiei-me. Estremeci. E no entanto ardi de calor, de paixão. Desejavas-me. E a tua língua, os teus dentes, os teus lábios evidenciavam esse desejo.
Paraste. Nessa noite tu controlavas, meu rei, meu imperador. Paraste e beijaste-me a testa tão carinhosamente que não contive as lágrimas. A tua ausência fora demais. Um mês de separação. Apenas um mês. Mas um longo e doloroso mês. Faltaste-me. Abandonaste-me. Na pior das alturas.
Chorei. Chorei de saudade. Chorei de tristeza. E chorei ainda mais por saber que a tua ausência foi forçada. Contra a vontade de ambos. Chorei por saber que gostarias de estar presente. Por saber que sofreste porque eu sofri. Chorei por mim e por ti. E tu choraste comigo. Não falámos. Não falámos nem precisámos. As lágrimas, os olhares e o silêncio diziam tudo por nós. Melhor do que quaisquer palavras. E amámo-nos tanto nesse não-dizer que diz tudo.
Pegaste-me pela mão e levaste-me contigo. Não sabia onde me levavas. Como sempre, surpreendias-me e eu adorava. Adorava-te. Caminhámos. Caminhámos bastante e eu senti que era exactamente aquilo que eu precisava. (Precisávamos?) O ar fresco da noite lavava-me a cara. A nossa cara. Refrescava-me. Invadia-me uma sensação de leveza. O poder de qualquer brisa da noite. Elevava-me. Tudo nessa caminhada fascinava. O som das folhas secas debaixo dos nossos pés. O uivo dos cães nas varandas ou nos terraços dos muitos prédios da cidade. As vozes altas e a alegria de um grupo de amigos que passeava do outro lado da rua. O barulho do camião do lixo que recolhia as sacas colocadas à porta das casas. Tudo era belo porque tudo se passava nessa noite. Nesse noite em que te revi. Em que matei saudades. Em que te amei tanto, meu amor.
Parámos em frente ao teu prédio. Silêncio. Olhares e sorrisos cúmplices. Entrámos. Degrau após degrau, subimos devagar os lanços de escadas que nos separavam da tua casa. A euforia em nós dera lugar à calma. Já esperávamos tão pacientemente por este momento que era agradável prolongá-lo o máximo possível. Abriste a porta, não acendeste a luz e fomos directos ao teu quarto. Lá, ligaste o candeeiro da mesa-de-cabeceira. Não precisaríamos de muita luz, apesar da ausência ainda nos sabíamos de cor. Correste apenas os cortinados para que passasse alguma da luz da noite.
Eu já estava sentada na tua cama, descalça, sem casaco. Tu estavas de pé a olhar para mim. Tiraste a camisola, descalçaste-te e ajoelhaste-te, sentado, na cama em frente a mim. Puxaste o meu cabelo para trás dos ombros e das orelhas e observaste-me com aquele olhar meigo que é tão teu. Tornaste a puxar o cabelo todo para frente do meu corpo e, delicadamente, tiraste-me a camisola. O meu cabelo tapava os seios desprotegidos. Assim não estás nua, dizias tu muito baixo, quase de forma imperceptível. Estendi as minhas pernas para ti e tu despiste-me a saia muito lentamente, observando cada centímetro de pele. Esticaste-te e obedeci à tua ordem muda: desabotoei-te as calças, e tu desfizeste-te delas. Restava a pouca roupa interior nos nossos corpos, tu de boxers, eu de tanga. O meu cabelo solto sobre o corpo. O teu selvagem, no ar. Passaste as tuas mãos pelas curvas do meu corpo, acariciaste a minha pele, o meu cabelo, e deitaste-me, deitámo-nos, suavemente na cama, no teu edredão fofo.
Deitado sobre entre as minhas pernas tacteavas o meu corpo com a boca. Beijaste-me as mãos. As dobras dos braços. Os ombros. O pescoço. Beijaste-me docemente as pálpebras dos olhos. O nariz. O queixo. E enfim os teus lábios encontraram os meus e beijámo-nos. Beijámo-nos sofregamente como se nos quiséssemos possuir, como se aquele beijo contesse todas as palavras, todas as ideias, todas as emoções, como se partilhássemos entre nós toda a energia que nos molda. E de novo os teus beijos abraçaram o meu pescoço que se estendia em prazer e eis que a tua boca descobriu os meus seios. Desceste com a língua até ao umbigo e daí até ao íntimo do êxtase.
3 comentários:
Está muito bonito.
Sedutor, apaixonado...
Mais uma vez parabens, escreves muito bem. E verás que nos proximos dias ganharás ispiração para acaba lo:)
bj fofo:P
está tudo tão bem descrito... até conseguimos realmente imaginar a hst na nossa cabeça :p "não dizer que diz tudo"...perfeito :)
Com as palavras criamos mundos, e se não são nossos, se são criações desejadas, sonhadas, vividas com o espírito, se não são a vida real... bem, se este teu mundo não é a tua vida real, está excelente, precisamente como acaba, e se é a tua vida real, então, o que se segue é teu, é intimo, privado...
ainda que ali, na dobra de uma palavra, na fragrância de um pensamento, perceba um Outono, e depois dele...
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