Um convite recebido pelo estimado GatoPreto em Março e que só hoje consegui responder.
"Cada blogger nomeado tem de enumerar cinco manias suas, hábitos pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de tornar público o conhecimento dessas particularidades, terão de nomear cinco outros bloggers para participarem igualmente no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogs, aviso do 'recrutamento'. Além disso cada participante deve reproduzir este 'regulamento' no seu blog."
1ª mania
Tenho a mania de trocar olhares com as pessoas que conduzem em vias rápidas e de sorrir às crianças que vão atrás.
2ª mania
Tenho a mania de pensar que as pessoas que conheço conspiram contra mim.
3ª mania
Tenho a mania que existem câmaras de vídeo por detrás dos espelhos de locais públicos (ex.: vestiários) ou salas com pessoas que observam as pessoas diante dos espelhos.
4ª mania
Tenho a mania de ler as últimas frases dos livros que começo a ler.
5ª mania
Tenho a mania de falar sozinha como se fosse com outrem e normalmente em inglês.
Muito bem, agora chegou a pior parte, principalmente porque a maior parte dos bloggers já deve ter respondido a este desafio, por esta altura. Enfim... vou tentar:
Hasta Siempre... por ti!
Sara Cohen
[Ambas ainda não responderam ao desafio (tanto quanto sei) : à primeira pela novidade, à segunda como incentivo ao seu regresso. Quanto aos outros 3 que faltam: não sei.]
sexta-feira, agosto 18, 2006
sexta-feira, agosto 11, 2006
Tempo
Tudo o que existia no presente, deixará de o ser no futuro. Tudo porque o tempo transfigura. Somos esculturas do tempo. Somos a imagem viva do desgaste que o tempo inicia e prolonga. O que fomos não o somos. E o que somos não o seremos. Somos todos esculpidos da mesma matéria-prima. E essa matéria está sujeita à mudança, à vida, ao desgaste, à morte.
12 de Julho de 2006
[Inacabado? Talvez.]
12 de Julho de 2006
[Inacabado? Talvez.]
terça-feira, agosto 08, 2006
quarta-feira, agosto 02, 2006
Não deixem morrer as palavras
- O Sr. já reparou bem num dicionário?... Num dicionário qualquer?... No de Morais, por exemplo... Ou no do povo... (Tanto faz!...) Já reparou?...
Eu esperei pela sequência do discurso. A aproveitar aquela mandriice tão boa de ter alguém a raciocinar por mim.
- Já reparou?... Pois a mim faz-me lembrar, sabe o quê?... Um jazigo de família. Ou melhor: um jazigo de nação. Uma espécie de mausoléu de papel, onde gerações de gatos-pingados empilharam séculos e séculos de palavras, alguma já definitivamente mortas, cobertas de bichos e de coroas saudosas... Outras vasquejaram nos últimos estremeções... E muitas, apenas em estado cataplético, à espera de um toque de dedos para regressarem à monotonia da vida diária... A este maldito bolor, onde ultilizamos ao todo quantas palavras vivas - diga-me lá quantas? Quinhentas? Mil?... Nem tantas, talvez!
Garanto-lhe que, em certos dias, quando subo o Chiado... ou entro num café da Baixa... e ouço essa gente parda a repisar, de manhã à noite, os mesmo termos... as eternas expressões... os substantivos inevitáveis... os adjectivos fatais... e o verbo ser, o verbo haver, e o verbo ter, e o verbo fazer... sabe o que me apetece?... Saltar para cima de uma mesa ou de um marco postal e gritar furioso aos homens: não deixem morrer as palavras, assassinos! Não deixem morrer as palavras!
Caía de bêbado, evidentemente. Mas pela boca roçava-lhe a alegria da volúpia de um sentimento fundo.
- E algumas são tão bonitas!... murmurava absorto. - Quando as vejo deitadinhas nas páginas dos dicionários, com mais de trezentos ou quinhentos anos, sabe do que me lembro sempre?... Daquela lenda das velhinhas milagrosas que, de ninguém as usar, o tempo tornou outra vez novas e virgens...
Deteve-me um momento a esquadrinhar na memória e por fim levantou um dedo de exclamação triunfante:
- Ardimento, por exemplo... Como é que os portugueses puderam esquecer-se desta palavra tão jovem, tão quente, tão expressiva e teimam em usar a infame «coragem» e o ignóbil «entusiasmo»?
E exemplificava:
- «Beija-a com ardimento...» E mais... muitas mais... Tantas que só por ablepsia... Olhe outra: ablepsia... E solerte! Agora já ninguém diz solerte! Porquê? «Fulano é solerte»? E ardiloso? E roaz?...
Para me eximir àquela autêntica inundação de palavras difíceis (e de gafanhotos) formulei com rapidez um plano de defesa que abrangia o seguinte desenvolvimento táctica: «concordar e retirar-me».
Mas o beberrolas, com a presença de um sorriso de lágrimas nos olhos, fincou-me as mãos no casaco, numa brandura de rogo:
- Antes de se ir embora quer fazer-me um favorzito, quer?... Só um favorzinho?... Faz?
Aquiesci.
- Então diga, em voz alta, só para eu ouvir, esta palavra tão bonita: protérvia... Diz?... Protérvia...
E, como eu me retraísse, intimou-me autoritário:
- Vá, diga: protérvia.
- Protérvia... - desembuchei, envergonhadíssimo como se pronunciasse uma obescinidade.
A boca do explicador de português babou-se de consolo admirativo pelas palavras esdrúxulas.
- Protérvia! [...] E impérvio? E estólido? Ouça: e se eu lhe chamasse estólido, gostava? Seu estólido!...
E riu, riu, riu, desdentadamente. [...]
Confesso que aproveitei a aberta do estólido e fugi.
José Gomes Ferreira, Gaveta de Nuvens
Eu esperei pela sequência do discurso. A aproveitar aquela mandriice tão boa de ter alguém a raciocinar por mim.
- Já reparou?... Pois a mim faz-me lembrar, sabe o quê?... Um jazigo de família. Ou melhor: um jazigo de nação. Uma espécie de mausoléu de papel, onde gerações de gatos-pingados empilharam séculos e séculos de palavras, alguma já definitivamente mortas, cobertas de bichos e de coroas saudosas... Outras vasquejaram nos últimos estremeções... E muitas, apenas em estado cataplético, à espera de um toque de dedos para regressarem à monotonia da vida diária... A este maldito bolor, onde ultilizamos ao todo quantas palavras vivas - diga-me lá quantas? Quinhentas? Mil?... Nem tantas, talvez!
Garanto-lhe que, em certos dias, quando subo o Chiado... ou entro num café da Baixa... e ouço essa gente parda a repisar, de manhã à noite, os mesmo termos... as eternas expressões... os substantivos inevitáveis... os adjectivos fatais... e o verbo ser, o verbo haver, e o verbo ter, e o verbo fazer... sabe o que me apetece?... Saltar para cima de uma mesa ou de um marco postal e gritar furioso aos homens: não deixem morrer as palavras, assassinos! Não deixem morrer as palavras!
Caía de bêbado, evidentemente. Mas pela boca roçava-lhe a alegria da volúpia de um sentimento fundo.
- E algumas são tão bonitas!... murmurava absorto. - Quando as vejo deitadinhas nas páginas dos dicionários, com mais de trezentos ou quinhentos anos, sabe do que me lembro sempre?... Daquela lenda das velhinhas milagrosas que, de ninguém as usar, o tempo tornou outra vez novas e virgens...
Deteve-me um momento a esquadrinhar na memória e por fim levantou um dedo de exclamação triunfante:
- Ardimento, por exemplo... Como é que os portugueses puderam esquecer-se desta palavra tão jovem, tão quente, tão expressiva e teimam em usar a infame «coragem» e o ignóbil «entusiasmo»?
E exemplificava:
- «Beija-a com ardimento...» E mais... muitas mais... Tantas que só por ablepsia... Olhe outra: ablepsia... E solerte! Agora já ninguém diz solerte! Porquê? «Fulano é solerte»? E ardiloso? E roaz?...
Para me eximir àquela autêntica inundação de palavras difíceis (e de gafanhotos) formulei com rapidez um plano de defesa que abrangia o seguinte desenvolvimento táctica: «concordar e retirar-me».
Mas o beberrolas, com a presença de um sorriso de lágrimas nos olhos, fincou-me as mãos no casaco, numa brandura de rogo:
- Antes de se ir embora quer fazer-me um favorzito, quer?... Só um favorzinho?... Faz?
Aquiesci.
- Então diga, em voz alta, só para eu ouvir, esta palavra tão bonita: protérvia... Diz?... Protérvia...
E, como eu me retraísse, intimou-me autoritário:
- Vá, diga: protérvia.
- Protérvia... - desembuchei, envergonhadíssimo como se pronunciasse uma obescinidade.
A boca do explicador de português babou-se de consolo admirativo pelas palavras esdrúxulas.
- Protérvia! [...] E impérvio? E estólido? Ouça: e se eu lhe chamasse estólido, gostava? Seu estólido!...
E riu, riu, riu, desdentadamente. [...]
Confesso que aproveitei a aberta do estólido e fugi.
José Gomes Ferreira, Gaveta de Nuvens
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