domingo, outubro 02, 2005

Recordações de invenção

Como em todas as minhas histórias de adolescente, estava um fim de tarde ameno. O sol mergulhava, na sua calma, nas águas do oceano atlântico e pintava o céu num tom de laranja que me preenchia a alma. Alma que se encontrava, ainda, presa a este corpo de pele branca e seca, escondida, apenas, pelo biquini laranja e o saiote azul marinho, com cujas tirinhas me entretinha. A maresia fresca que pairava no ar enchia-me os pulmões e fez-me divagar... O corpo estava naquela praia, mas a mente viajava já entre mil e um pensamentos das mais variadas sensações. A primeira a sobressair do baú das memórias foi o cheiro ao cozido de bacalhau que a minha mãe costumava fazer no tempo inverniço. Sempre cozinhou com tanto carinho!... Tudo era cuidado ao mais ínfimo pormenor, nada podia faltar e tudo o que havia era maravilhoso. "Um verdadeiro jantar dos deuses!", dizia o meu pai limpando a boca ao guardanapo, encostado à cadeira de papo para o ar. E realmente, os jantares da minha mãe sempre foram deliciosos e eram sempre propícios a longas conversas que se estendiam até altas horas da noite. Eram bons os tempos passados com os meus pais. A nossa relação era, sem dúvida nenhuma, uma amizade extremamente forte e rica. Tantas experiências em comum, tantos conhecimentos e relatos partilhados, tanta vida entre nós. E as nossas viagens? Oh, as nossas viagens!... De um canto ao outro do país, dormitanto em hóteis, cantando no carro ao som dos velhos cd's do meu pai, comentando, criticando, rindo... Ainda me lembro quando fomos todos juntos ao Jardim Zoológico de Lisboa. Saí de lá com os pés em bolhas, mas valeu tanto a experiência! Era (e ainda deve ser) enorme! e são tantos os animais lá hospedados! Desde os ferozes leões tão esperados naqueles sítios, os chimpanzés tão fofinhos e brincalhões, aquelas aves pequenas todas coloridas, as girafas com o seu pescoço grandemente engraçado, os hipopótamos, até os répteis e lembro-me de ver avestruzes! Houve até uma avestruz deveras patusca que decidiu engraçar com a minha mãe, talvez pela camisola colorida que ela levava nesse dia, ainda não sabemos. As lembranças de bons momentos passados saltitavam em mim e eu deixava-me ir... até sentir na cara uma pequena gota de água que, insistentemente, se multiplicou. Começou a chover fortemente e de rajada e fui obrigada a levantar-me e atravessar a praia até ao café. Agora, era o ar fresco que avizinhava a noite que me despertava de regresso ao corpo e ao presente.

11 de Agosto de 2005


Em resposta ao desafio do mês "Palavra de ordem!" do Escreva!

2 comentários:

Perséfone disse...

Ja tinha lido esse textinho :) lá no canto do Escreva, oferece-nos um cenário bonito ^^ é bô quando nos lembramos das coisinhas boas :D
e é bonito partilha-las também.
Tive a pensar, para alguem que escreve tao bem em portugues talvez o teu cantinho devesse ter um nome mais forte, assim do tipo.. *hhmmm* Memórias? enfim batatices minhas lol :)

[mais madura não sei, a tentar reinventar-me provavelmente, à procura do acreditar sem dúvida, podia-te felicitar pelo mesmo ;) brigada]

Beijoquita*

Anónimo disse...

olha..eu vim so deixar-te um jinho enormeeeeeeee e agradecer pelos k deixaste la..és uma kida ^_^óspois venho ca com mais tempo pa te ler ta ta?? :P muahhh ***