quarta-feira, junho 22, 2005

Uma noite

Os seus pés hesitavam em subir os degraus da escada de caracol. Ele estava lá em cima, sentado na cama, virado para a parede à espera dela. Ela sentia-o entristecer ainda antes de o avistar. Demorou-se em passos pequenos a subir as escadas, no último degrau parou. Parou a olhá-lo. Estava encurvado e as suas mãos continuavam a segurar a cabeça como há minutos quando a havia sentido sair. Pousou levemente a mochila no chão, descalçou as sabrinas e começou a caminhar… pé ante pé, sem pressa, num cuidado intenso preocupado com o ruído. Queria conservar o silêncio, não para surpreendê-lo porque sabia que a sua presença lhe chegava aos sentidos, mas para eternizar o momento nos sons mudos que cresciam no silêncio. Aproximou-se da cama, deixou-se apoiar suavemente nos joelhos e chegou-se a ele. Com receio estendeu a mão e acariciou-lhe a cabeça rapada. Ele virou-se num movimento demorado e fitou com profundidade os seus grandes olhos brilhantemente castanhos. Olharam-se durante uns longos minutos e conversaram, assim, em silêncio. Partilharam emoções de boca fechada e entenderam-se sem linguagem palavrada. Um beijo profundamente sentido quebrou a linha do olhar e lançou-os delicadamente nos lençóis da cama. Os lábios dele percorriam-lhe o pescoço e o peito numa suavidade que saboreava. Em movimentos sensuais as mãos dela acariciavam-lhe a careca tão apreciada e descendo pelo corpo apertavam os dedos contra as costas dele. As roupas iam deslizando pela cama e as pernas moviam-se, entrelaçavam-se, as dele nas dela. A pele pálida dos dois confundia-se, o suor misturava-se e os corpos uniam-se. Os movimentos da paixão cresciam, iluminados pela vela repetidamente acesa a cada noite como uma espécie de lembrança, e cuja chama crescia como que alimentada da energia que unia os dois amantes. Amaram-se apaixonadamente toda a noite e, ainda antes dos raios do sol poderem intensificar-se, ela vestiu-se, pegou nas suas coisas e partiu definitivamente, deixando apenas a vela e a memória de uma noite em que ele a sentiu apaixonar-se.

20 de Junho de 2005

7 comentários:

Anónimo disse...

Gostei, está muito boa esta descrição é possivel imagina-la, quase senti-la, vive-la.

:)**

Anónimo disse...

Adorei a descrição e o pormenor das palavras ditas em silêncio. Ao mesmo tempo emotivamente alegre triste pela partida definitiva.
Adorei. Fica bem!

A Monochromatic Kind of Man disse...

E admiraste-te tu pela minha ousadia de dar um sentido literal ao Blue Mind Orgasm? Não tinhas motivo para tal, também aqui há erotismo, erotismo intrínseco, não a minha soft porn de uma mente que já não se acha em conteúdo.

Agradeço-te pelo trabalho em ler tanto do meu blog. E dos comentários claro. Já que continuo na ideia que poucos o fazem.

Um beijo.

André Fernandes disse...

Grande blog :)

Miguel disse...

que bonito.. que intenso! estas palavras transpiram sensualidade, e sentimentos bruscos! adorei.. :]

beijo *

... disse...

De uma maneira invulgar alcançei este teu espaço e muito me surpeendi. Parabéns. Continua a escrever, já faz algum tempo que não lia algo assim: com qualidade mas ao mesmo tempo simples e genuíno.

Anónimo disse...

Vim deixar um beijinho e dizer que gostei da mudança de cenário.. :) ta levezinho ^_^