Mais um gole. O copo não parava na mesa um minuto. Não gostava de vinho, mas aquele até nem era muito mau. Não era a única. A maioria dos copos erguiam-se no ar em brindes e patetices corriqueiras. Havia vinho nas toalhas das mesas, nas camisolas, no chão, nas bocas... Havia tanta gente.
Eu saçaricava de uma mesa para outra. Havia tanta gente. Todos espalhados. Tantas mesas. Tantos copos. Sorria muito, falava muito, demais, como de costume. “Tenho de deixar de ser tão desbocada” e lá saía mais uma intimidade que ficava bem do lado de dentro da boca. O discernimento já ia longe. Mais umas piadas, mais uns copos, mais uns abraços, uns sorrisos, umas patacoadas. Muita gente. Só vozes. Todos conversam e riem. Mais vinho. Só garrafas... vazias. E os empregados em pressa, com os seus carrinhos, em aceleradas corridas por entre as tantas pessoas descoordenadas. Os pratos são levados. (Houve sobremesa?) Já são poucos os que estão sentados. (Há alguém sentado?) O que vale é que o restaurante é grande e os espelhos na parede, junto à entrada, não permitem a sensação, por vezes claustrofóbica, de se estar no meio de tanta gente.
De repente, estamos na casa-de-banho, depois de sentados a uma mesa que não a nossa, a conversar sobre mais patetices, sabe-se lá sobre o quê. Há tanta gente! Até na casa-de-banho há muita gente. Rapazes na das raparigas. Está tudo misturado. Fui à casa-de-banho, mas não queria “ir à casa-de-banho”. Devo-me ter guiado pelas vozes. Gosto de estar onde estão as pessoas, nestas alturas. Tanto riso! Dá-me vontade de rir só de olhar este festival. Os copos continuam nas mãos. A casa-de-banho não é pretexto para abandonar o copo na mesa. O meu... (onde está o meu copo?). As minhas mãos estão livres e eu gesticulo muito quando falo. Gesticulo sempre muito quando falo. Tanta gente conhecida. A Clarice apoia-se no meu ombro e ri. O Mário fala connosco (que somos mais que eu e a Clarice) sentado em cima de uma das sanitas com a porta aberta. Felizmente está só sentado. (de que se fala?) A certo ponto, incomoda-me tanta gente num espaço fechado e tão pequeno. Saio um pouco para tentar perceber se a mesma confusão se passa do lado masculino. Nem por isso. A confusão começa entre as duas portas e acaba do lado de dentro da nossa. E eis que mais alguém conhecido aparece.