terça-feira, agosto 28, 2007

Ignorância como sobrevivência

A ignorância é necessária à mente humana. Por isso existem mistérios e segredos e milagres e síndromes e fenómenos sobrenaturais.

Acredito no conhecimento e acredito na procura do conhecimento, mas aceito o zeitgeist, que há momentos para a descoberta. A sabedoria nasce de uma dança harmoniosa entre o conhecimento e o crescimento, por isso aceito que a ignorância é um patamar que nos permite o acesso a novos degraus sem tropeçarmos.
O não saber é um porto seguro e todos nós precisamos de um. A ignorância é sobrevivência porque sem ela não haveriam calmarias nas tempestades dos nossos mundos.

Hoje compreendo o poder da ignorância e sei que esse conhecimento foi acedido porque cresci. E continuo a crescer...

sexta-feira, agosto 24, 2007

Exercício dos 5 minutos

Eram exactamente 1h11 quando ela pegou na faca da cozinha e a fez deslizar por embos os pulsos. Não queria que tivesse sido assim, mas não havia outra forma e ela não aguentaria esperar mais um dia. Pelo menos acertava na hora e isso era ainda mais importante do que o modo como o fazia. Toda a sua vida tivera um qualquer pressentimento relativamente àquela hora e esta noite dava-lhe finalmente um significado.
Não sabia se olhava para o sangue escorrer ou se simplesmente encarava a parede da casa-de-banho até... até não ser preciso preocupar-se com isso ou qualquer outra coisa.

17 de Agosto de 2007

sábado, agosto 18, 2007

Shirley Manson







Fuck, "when I grow up" I want to be like her.

"Shirley Manson is what we call, hardcore. Everything she does, from her songs and her lyrics to her life has her 100% effort and attention." (AskMen.com )

sexta-feira, agosto 17, 2007

Exercício das Palavras I

Palavras:
  • café
  • baunilha
  • lençóis
  • ballet
9h da manhã. Lara esperava apoiada ao balcão que o café se aprontasse na cafeteira eléctrica e o sol, na sua pujança matinal, invadia a cozinha fazendo-a brilhar em todos os seus pormenores. Os bilhetinhos do pequeno Tomé eram uma vez mais passados por debaixo da porta e Lara perguntava-se como poderiam parecer tão sinceras as juras de amor de um miúdo de apenas 8 anos.
Do quarto chegavam os roncos de um desconhecido encontrado na noite anterior. Ela mirava os seus pés descalços semi-encobertos pelo lençol e preocupava-se em não chegar atrasada à aula de ballet. Num impulso dirigiu-se ao quarto, abriu os estores acordando o jovem mais pelo barulho do que pela luz que lhe lavava a cara directamente.
Rapidamente se sentou e a fixou. Lara com frases curtas, mas um sorriso dócil informou-o de que tinha de ir embora. Voltou à cozinha, levou-lhe uma caneca de café e insistiu na urgência por causa da sua aula. Enquanto ele apanhava as roupas do chão e se vestia, ela desfazia a cama e continha a expressão de nojo que o perfume de baunilha dele lhe causava. O cheiro impregnava os lençóis e por isso apressou-se em enfiá-los na máquina de lavar. Ele não acabara o café, mas já estava vestido, então indicou-lhe a saída, acompanhando-o à porta e despedindo-se com dois beijos inocentes.
- Posso voltar a estar contigo?
- Hã... como era mesmo o teu nome?
- Ricardo.
- Ok, Ricardo. Gostei muito da noite, mas precisas mesmo de ir.
De novo o sorriso e a porta fechou-se. Era tempo de se aprontar para mais um dia.

domingo, agosto 12, 2007

Simbiose

Todo um misto de euforia, prazer e desejo que acaba lenta e calmamente em mais uma conversa que se prolonga nas horas, num longo momento de troca de pensamentos que nos transportam ao transcendente do comum, ao império da racionalidade, da compreensão, da consciência. E é por esse processo de libertação que se anseia, por esse momento de exploração do ser.

21 de Maio de 2007

terça-feira, agosto 07, 2007

Livro do Desassossego

"A única atitude digna de um homem superior é o persisitir tenaz de uma actividade que se reconhece inútil, o hábito de uma disciplina que se sabe estéril, e o uso fixo de normas de pensamento filosófico e metafísico cuja importância se sente ser nula."

Bernardo Soares

domingo, agosto 05, 2007

Conclusões III

(...) Quero deixar de pensar no leitor. Há muito que deixei de escrever para mim. E isso magoa. Quero que volte a ser como antes. Mesmo que não goste de ler as minhas palavras depois. Pelo menos sentir-me-ei bem em escrevê-las. (...)
03.04.07

(...) Agora sei que escrevo com o intuito de ser lida. (...) E estou, actualmente, impedida de escrever como o fazia quando ainda não tinha (tanta) consciência do desejo de ser lida nem a vaidade se tinha apoderado de mim. (...)
05.07.06

Há coisas que não são para ler, são apenas para escrever.
20.07.07

sexta-feira, agosto 03, 2007

Descontração

Enquanto mergulhava os pés na piscina, uma andorinha sobrevoava a água em voos rápidos como se desafiasse algo ou alguém. O sol brilhava lá no alto do céu e Norah Jones fazia-se ouvir na aparelhagem atrás de mim. O dia estava magnífico e eu ansiava por um bloco e uma caneta para o poder descrever. Mas não me apetecia pensar demasiado. O meu verdadeiro desejo consistia em apreciar o momento. Fechar os olhos, lançar a face ao céu, agitar as pernas na água fresca e respirar.
Inspiro, expiro… inspiro, expiro… até sentir cada centímetro de pele no meu corpo, inspiro, expiro… até ser sensível ao som do passeio das formigas na relva, inspiro, expiro… até transcender não sei bem o quê. Simplesmente ser e sentir, na borda daquela piscina, com aquela andorinha a sobrevoar os meus pensamentos e Norah Jones para os embalar.