quarta-feira, julho 27, 2005

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O silêncio pairava no quarto.Duas da manhã e sem saber o que escrever.
Estava tudo calmo, nada se mexia e apenas se ouvia o respirar leve da cidade.
Duas e meia da manhã e ainda sem saber o que escrever. A caneta andava de um lado para o outro na sua mão, o caderno estava pousado na cama com as folhas em branco e uma tela preta havia atravessado a sua mente. As suas pernas moviam-se debaixo do lençol ansiosas, as mãos começavam a transpirar e a caneta escorregava. Um calor intenso percorria-lhe o pescoço e descia até às pernas. A impaciência era grande e a necessidade de o fazer ainda maior. O calor abafado não ajudava e os olhos também começavam a pesar.
Tinha que escrever! Ela sentia-o e por isso não conseguia largar a caneta nem deixar de fixar o caderno. A caneta estava pousada na folha, mas esta continuava em branco. A mão não se mexia e ela esperava ansiosamente que as letras se começassem a desenhar e o texto a formar-se, mas o que existia era apenas um cadeeiro de luz fraca, ela e um silêncio que escorria nas paredes, que preenchia o quarto e a sua mente.
Adormeceu sobre o caderno. Esta noite não o conseguiu, tinha que tentar outra vez. Não podia desistir. Ela sabia que existia, ela sentia... Era forte, tão forte que a deixava de rastos. Não conseguia e sentia-se mal. A força estava dentro dela, mas como conseguir transpô-la no papel?
Iria esperar que o dia de amanhã corresse para que a noite se exibisse.
Iria passar todo o dia à espera. Esperaria ansiosamente pela noite, para tentar mais uma vez. Apenas na noite.





[Não tenho andado em bons dias de escrita e como outro dia descobri mais uma pastinha com os meus escritos, resolvi mostar-vos este porque se adequa ao que ando a sentir. (Se bem que a noite já perdeu um pouco dessa magia.) O texto não tinha título e não sei qual lhe pôr e, infelizmente, também não tinha data marcada na folha, todavia presumo que seja perto de 2003.]